A falar de livros e ideias de Ficção Científica na semana da Feira do Livro do Centro de Recursos Poeta José Fanha. Falar de FC, mas sublinhar que no fundo o que conta é ler. Seja romance, policial, ficção, não ficção. É lendo, no diálogo entre as palavras lidas na página e o cérebro do leitor, que partilhamos conhecimentos e descobrimos ideas novas que nos intrigam.
Slide 1: Vindos de um outro mundo: breve introdução à ficção científica para alunos do AE Venda do Pinheiro. Uma viagem pessoal pela história, literatura e cinematografia de FC.
Slide 2: Ficção científica é uma forma de ficção que lida principalmente com o impacto da ciência e tecnologia, verdadeira ou imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. Esta ideia foi proposta primeiramente por Hugo Gernsback para promover e sustentar as suas publicações focalizadas em histórias cujo cerne incidia sobre especulações técnicas e científicas.
Slide 3: De onde veio a FC? Ao longo da história da literatura existem muitos exemplos de ficções pré-FC, no campo das utopias e mundos imaginários. Mas talvez o primeiro livro que teve como premissa uma ideia de base científica, à época, foi Frankenstein de Mary Shelley. Parece-nos estranho, uma vez que o vemos como monstro de terror, mas no livro a criatura monstruosa nasce não de explicações sobrenaturais ou mágicas mas sim da aplicação de ideias científicas ligadas à medicina e electricidade. No século XIX e princípios do século XX o que se viria a tornar FC ganhou popularidade e leitores, quer com a vertente de aventuras com tecnologia de Júlio Verne os seus seguidores, com a visão do papel da tecnologia de HG Wells, ou com as aventuras que misturam tecnologias futuristas à época (caso das edisonades, inspiradas na figura de Edison), e guerras futuras, um género muito em voga na viragem do século XX que ainda hoje se mantém vivo.
Slide 4: Imaginem um tempo onde não abundavam os meios de entretenimento. Sem televisão, internet, jogos. Só cinema e rádio para os mais afortunados. Ler era um passatempo, ea abundavam revistas cheias de contos empolgantes que encantaram os seus leitores. Estas publicações ajudaram a FC a afirmar-se como género por direito próprio. Foram, e ainda hoje são, a primeira linha de publicação para os autores, muitos dos quais se tornaram grandes nomes do género. A maior parte da FC pulp é elementar, de entretenimento rápido, sem grandes aspirações, mas saíram daqui alguns dos maiores autores do género. Das revistas clássicas salientam-se a Amazing Stories editada por Hugo Gernsback que se caracterizava por uma aproximação mais rigorosa à ciência na FC, e o foco no deslumbre com ciência e tecnologia da Astounding SF de John W. Campbell. Algumas destas revistas, como a Analog, Asimov e Magazine of F & SF ainda hoje são publicadas. Das mais recentes destaca-se a New Worlds, que apostou numa FC mais literária e experimental, e a Interzone, das poucas de FC europeia que ainda se mantém em publicação.
Slide 5: A banda desenhada tem sido um dos campos onde a FC se afirma. Desde os tempos da BD clássica (Buck Rogers, Flash Gordon, Weird SF e tantos outros) até aos dias de hoje os autores de BD têm aproveitado as possibilidades visuais da BD para despertar sonhos do imaginário futurista. Destaco aqui, da BD franco-belga, o incontornável Hergé com Tintin a ir à lua; o surrealismo de Enki Bilal; a FC em estado de pura magia de Moebius (Jean Giraud). Do Fumetti italiano destaco o retro-futurismo inspirado em Verne de Greystorm e as viagens pacifistas no tempo de Lilith de Luca Enoch. Dos comics modernos muita coisa poderia ser dita, mas sublinha-se o futurismo de Warren Ellis, talvez dos melhores actualidade. A série Saga, a ser editada em portugal, Hickman em Manhattan Projects. Hoje, a BD é um dos campos onde a mistura de ideias especulativas e iconografias desafiantes da FC consegue ir mais longe, graças ao carácter intrínseco da BD como mistura de texto, imagem e técnicas narrativas mistas.
Slide 6: E por cá, há FC? Sim, mas pouca. O século XIX legou-nos uma lisboa sonhada no ano 2000; dos tempos do estado novo sonhos de um império português do futuro. Mais recentemente, autores como Luís Filipe Silva, António de Macedo e JoãoBarreiros têm-se preocupado em escrever FC de qualidade. E há novos autores a experimentar o género, caso do universo partilhado do comandante serralves. O género tem tido alguma expressão, mas muito reduzida, apesar de um número considerável de obras publicadas por autores portugueses. E, até no cinema português encontramos exemplos de FC: os filmes Os Emissários de Khâlom e Os Abismos da Meia Noite de António de Macedo, Aparelho Voador a Baixa Altitude de Solveig Nordlund, e os recentes RPG de David Rebordão e Collider de Jason Butler.
Slide 7: Há três autores que são incontornáveis quando se está a descobrir a ficção científica. Ray Bradbury, algo atípico, mais próximo do realismo mágico do que da FC pura, que imbuiu os seus livros de um eterno deslumbramento pelos mundos reais e imaginários. Foi dele o primeiro livro que li que me despertou e apaixonou pela FC, as Crónicas Marcianas, um conjunto de histórias sobre a conquista do espaço sem grandes aventuras nem épicas batalhas espaciais. Dele também há o livro que arrepia, aquele em que os bombeiros servem para queimar livros e que é uma ode ao amor à literatura e liberdade de pensamento.
Asimov é outro
dos grandes clássicos. Autor prolífico, legou-nos as três leis da robótica, que
explorou nos contos que se coligem em I, Robot. É dele uma das primeiras séries
de romances que olha para o poder das ideias e não das tecnologias como elemento
definidor, Foundation, onde o grande personagem são as tendências estruturais
que modelam uma sociedade galáctica milenar.
Slide 8: O melhor da FC está na forma livre como especula. Podíamos falar de sub-géneros, que definem tipos de histórias características, como viagens no tempo, guerra futura, space opera, cyberpunk, mas no seu melhor a FC transcende géneros e, imaginando futuros, desafia-nos a reinventar o presente. Alguns exemplos, pessoais: Channel Sk1n: a televisão e internet enquanto vírus; Hav: um guia de viagens a um país que não existe que atrai leitores incautos a agências de viagens; O Homem do Castelo Alto: e se… a américa vivesse ocupada pelos japonese e alemanha nazi e um livro proibido contasse a história do que seria se os aliados tivessem vencido a II guerra? The Drowned World: e se o aquecimento global inundasse as cidades mundiais e Londres se transformasse numa selva semi-submersa? A Invenção de Morel: uma ilha onde o presente e o passado coexistem mas não se tocam; Babel 17: uma língua que é uma arma que muda a maneira de pensar de quem a fala; O Senhor da Guerra nos Céus: acordar numa avalanche dos himalaias e descobrir um novo mundo cruzado por dirigíveis; Olá América: a américa abandonada é redescoberta por uma expedição arqueológica.
Slide 9: Vivemos na era digital, numa hipermodernidade em que todos os dias a ciência e tecnologia nos trazem novidades radicais que se entranham no dia a dia. Eis alguns livros, já antigos, que quase anteveram o mundo de hoje (e, nalguns casos, inspiraram directamente cientistas e engenheiros): Schismatrix: a humanidade espalha-se pelo sistema solar e modifica radicalmente a sua genética; Neuromancer: um hacker no meio de intrigas entre empresas e inteligências artificiais, legou-nos o termo ciberespaço; Brasyl: o presente, o passado e o futuro nos trópicos colidem enquanto a física quântica derruba as barreiras temporais; Snow Crash: descreve mundos virtuais em 3D realistas habitados por avatares.
Slide 10: Nem só de língua inglesa vive a FC. Nos últimos anos mutliplicam-se as vozes europeias e mundiais. Trazem à FC outras sensibilidades, expandido o campo literário, mostrando outras visões do mundo e dos futuros que não a ocidental. Alguns exemplos: A Mecânica do Coração: uma história de amor steampunk em que um jovem busca a rapariga que ama e detém a chave do seu coração mecânico; The Bookman: lagartos alienígenas invadem a terra, fingindo-se humanos, num século XIX cheio de dirigíveis e raios da morte; Mémoria: o mais perigoso assassino da galáxia viaja entre planetas para descobrir que é uma inteligência artificial que se escapou de um laboratório; The Three-Body Problem: um jogo de computador funciona como cavalo de tróia para uma civilização extraterreste invadir a Terra; 10 Billion Days e 100 Billion Nights: demasiado estranho para explicar. Jesus e Siddharta lutam ao longo dos séculos utilizando civilizações e mísseis atómicos de curta distância; Aurorarama: os dias da cidade gelada que é a Veneza do pólo norte.
Slide 11: Alguns livros imperdíveis, de autores portugueses ou recentemente editados por cá: O Marciano, de Andy Weir: um astronauta abandonado em marte faz tudo para sobreviver e ser resgatado, em breve será filme; O Baile, de Nuno Duarte e Joana Afonso: um agente da PIDE investiga estranhos acontecimentos numa aldeia de pescadores; Se Acordar Antes de Morrer: os contos de João Barreiros; Cidade Suspensa: o imaginário português revisto pelo traço espantoso de penim loureiro.
Slide 12: É através do cinema que a FC chega ao grande público. Legou-nos iconografias espantosas, que ficam na memória visual e marcam o que conhecemos de FC. Como a imaginamos. Seleccionam-se aqui alguns filmes marcantes, fugindo aos mais esperados. Tudo começou em 1902, com a viagem à lua de Meliès. E continua, hoje, com filmes que deslumbram pelo lado visual e intrigam pelas suas concepções futuristas, que nos inspiram a imaginação.
Slide 13: Desafio: distribuindo cartões visões de utopia, perceber desafios contemporâneos a partir de ideias futuristas.
Slide 14: Já chega. Ide-vos, humanos.