quinta-feira, 21 de maio de 2015

Over The Top: Alternate Histories Of The First World War


Peter Tsouras (ed.) (2014). Over The Top: Alternate Histories Of The First World War. Barnsley: Frontline Books.

História alternativa é habitualmente terreno fértil para especulações informadas de autores de ficção científica e fantástico. O curioso neste livro é serem historiadores que sem se afasterem do rigor histórico e analítico se atrevem a especular sobre o que teria acontecido na I guerra se personalidades históricas tivessem agido de forma diferente ou decisões cruciais tivessem tomado outra forma. O que resulta não são aventuras em visões temporais alternativas, mas relatos estruturais que delineiam outros caminhos possíveis da história. Sabemos como se desenrolou na realidade de um passado sangrento, de violência incompreensível. Há nestas visões algo de pensamento desejoso por uma alternativa à carnificina da guerra das trincheiras, em direcção a uma visão mais clássica da guerra como de grandiosos movimentos, batalhas decisivas e não campos ensopados de sangue e cadáveres pelas máquinas mortíferas que se paralisam durante anos a fio.

Estas especulações ganham plausibilidade à luz dos factos históricos. Olhando para o passado pela lente do futuro, percebemos como alguns momentos decisivos poderiam ter forjado outros eventos. É nesse aspecto que as possibilidades traçadas neste livro se debruçam muito bem.

E se...

- No dealbar da I guerra o Plano Schlieffen, que obrigava a Alemanha a invadir a Bélgica para derrotar a França a tempo de virar os seus exércitos contra a invasão russa, não tivesse sido posto em prática, tendo o alto comando optado por reforçar a fronteira franco-germânica e enviado o grosso das forças forças para a fronteira russa? Teria sido a França a invadir a Bélgica, e parte do casus belli que mergulhou a europa na guerra, a violação da neutralidade belga, teria ocorrido de forma diferente. Com os ingleses neutros, os alemães na posição de atacados e russos e franceses rechaçados, a guerra termina depressa. Sem derrota, a Alemanha não irá ser terreno fértil para o nazismo, e a guerra curta não dá tempo aos bolcheviques de derrubarem o Czar. E tudo anda à volta de um pormenor táctico, que poderia ter acontecido. A decisão fatal de meter em marcha o plano Schlieffen poderia ser evitada senão pelo excessivo rigor do alto comando, inflexível a meter em marcha um dos planos possíveis de combate.

- Na batalha de Ypres, o recém-chegado corpo expedicionário britânico tivesse sido esmagado pelos exércitos alemães, dando-lhes uma vitória esmagadora que terminará a guerra em 1916?

- Para colocar de joelhos o império otomano o general inglês Kitchener apostasse numa incursão decisivia no porto turco de Alexandretta, apoiado por forças coloniais que colocam a ferro e fogo o levante?

- E se Venizelos, o agressivo primeiro ministro grego, tivesse conseguido convencer o rei a alinhar com os aliados desde a primeira hora? As experientes forças gregas, endurecidas pelas guerras dos balcãs, aconselham os generais franco-britânicos sobre as realidades de um desembarque em Gallipoli e, liderando brilhantemente as várias ofensivas sobre o império otomano, reconquistam Constantinopla.

- Com um aguerrido Teddy Roosevelt na presidência americana, a política externa não segue o isolacionismo de Woodrow Wilson. Esticando os limites da sua indústria para armar um pequeno exército em expansão, os Estados Unidos desembarcam em França e tomam conta do sistema de fortalezas de Verdun, onde apesar da sua inexperiência revelam combatividade capaz de inflingir pesadas derrotas aos exércitos alemães.

- A batalha da Jutlândia tivesse terminado com uma derrota decisiva da frota de alto mar alemã? Na história real a vitória inglesa foi pouco decisiva, com o grosso dos navios de guerra germânicos a escapar incólumes, refugiando-se nos portos sem se atreverem a mais acções decisivas. Nesta visão, as tácticas almirante Jellicoe metem a pique os mais portentosos navios capitais da frota de alto mar alemã.

- A incompetência dos generais russos na I guerra tornou-se quase lendária pela forma como desperdiçaram as massas humanas que tinham ao seu dispor e foram rechaçados pelos alemães e austríacos. Nesta hipótese, um primeiro ministro russo determinado promove os oficiais mais capazes aos comandos da Stavka, permitindo ao general Brusilov lançar uma ofensiva inesperada na frente austro-húngara que em poucas semanas obriga Viena a suplicar pela paz.

- A batalha do Somme ficou para a história como uma das mais sangrentas da I Guerra. Neste cenário, uma mudança nas tácticas utilizadas pelo BEF permite aos soldados britânicos alcançar os seus objectivos militares sem a carnificina da batalha real, mas as condicionantes logísticas e falta de experiência dos comandantes em campo não asseguram vitórias decisivas.

- Os tanques foram uma das inovações da tecnologia bélica trazidas pela I guerra, mas as suas experiências nos campos de batalha não foram especialmente decisivas. Mas e se, em vez de utilização pontual em ofensivas clássicas, as forças francesas e inglesas mantivessem em segredo total o desenvolvimento dos carros de combate e os largassem numa ofensiva massiva apenas quando já dispunham de um número muito elevado destas máquinas de guerra?

- Para terminar, um e se...? mais tenebroso. Imagina os bombardeamentos alemães com Zeppelins e Gothas mais intensos do que realmente foram, com um precursor do Blitz sobre Londres que revolta as populações. Após a morte do primeiro-ministro britânico às mãos de uma turba revoltosa depois de um bombardeamento alemão, as rédeas do poder são entregues a um barão dos jornais, que suspende as liberdades e garantias, faz desaparece as vozes políticas críticas e mergulha o Reino Unido num proto-fascismo de punho fechado.