quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Malign Velocities: Accelerationism and Capitalism


Benjamin Noys (2014). Malign Velocities: Accelerationism and Capitalism. Londres: Zero Books.

Uma ideia intrigante: e se em vez de combater os excessos do capitalismo a estratégia fosse de aprofundamento e estímulo aos excessos, provocando a sua derrocada através da aceleração a extremos? Curiosa teoria. Pessoalmente tenho alguma dificuldade em imaginar células de bilionários revolucionários, nadando em riquezas incomensuráveis, empenhados em deixar exsangues os sistemas económicos, sonhando com o dia em que as turbas ululantes se revoltarão e espetem as suas cabeças em paus como vingança pela desigualdade devastadora, sociedade esquizofrénica e catástrofes ambientais legadas pelo capitalismo terminal.

Desta premissa Noys parte para uma análise de movimentos artísticos e teorias filosóficas influentes ao longo do século XX e princípios do XXI. Começa com o sempre interessante futurismo, com a sua estética deslumbrada pela então novidade da massificação mecânica, da velocidade e da guerra. Recorda-nos como os entusiastas da velocidade mecanicista e do belicismo desenfreado se estamparam sob as balas na frente da I Guerra, fim apropriadamente catastrófico para os entusiasmos mais destravados. Daí mergulha nos campos mais rarefeitos das teorias do real da escola francesa, terreno pantanoso mais intrigante. Toca, como não poderia deixar de ser, no cyberpunk como tomada de pulso da colisão entre utopias e distopias tecnicistas propiciadas pelo mundo digital. Termina com um toque escatológico, afirmando a merdice do capitalismo desenfreado quer como característica que lhe é inerente quer como o estado em que deixa aqueles que são descartados pelo sistema.

Com uma boa análise sobre ideias da contemporaneidade sobre velocidade, não perde de vista um catastrofismo deslumbrado, entusiasta da derrocada total sem olhar às consequências. Mas não deixa de tocar num ponto óbvio e doloroso para aqueles com incapacidades bilionárias: o capitalismo desregulado de índole neo-liberal está a ter consequências devastadoras no tecido social. Este conceito de aceleração em direcção ao colapso é uma perspectiva algo absurdista que nos ajuda a sentir a extensão dos problemas causados por ganância sistematizada em estado puro.