quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Leituras

The Neurological Side-Effects of 3D: Uma notícia bizarra sobre um estudo científico que recomenda que as crianças não sejam expostas a visualizações tridimensionais para não correr risco de danos cerebrais inspirou Geoff Manaugh a ir um pouco mais longe. Porque aqueles que temem os horrores mentais do 3D não estão a levar em conta os efeitos da arquitectura, essa sublime forma de dominar o espaço tridimensional: "we are already surrounded by immersive and complexly 3-dimensional spatial environments, built landscapes often complicated by radically diverse and confusing focal lengths. We just call it architecture". E se, em nome da saúde infantil, as crianças não pudessem entrar em determinados edifícios para que o seu desenvolvimento cerebral não seja prejudicado? A ideia do 3D como danoso para o desenvolvimento cerebral é estapafúrdia, no mínimo. Desenvolver a abstracção e percepção espacial, aliás, é coisa que se faz pouco nas escolas, onde impera o plano. Pessoalmente fiquei intrigado com a ideia de poder estar a traumatizar criancinhas quando lhes ensino perspectiva ou a trabalhar com ferramentas 3D.


The Paris Horror Show: Da Messy Nessy não podemos esperar textos muito profundos, mas o seu olho para as delícias visuais é imbatível. Neste artigo leva-nos ao interior do já desaparecido Théatre Grand Guignol, cujo pendor para o horror sangrento e macabro se tornou um adjectivo apreciado pelos fãs de ficções mais aterrorizantes. Muitas imagens, com o preto e branco das fotos desvanecidas a sugerir a exuberância sangrenta da maquilhagem e cenas em palco, e pequenas histórias, como a da actriz Paula Maxa, talvez a mulher mais assassinada da história do teatro.

Big, bad tech: how America’s digital capitalists are taking us all for a ride: Não só americanas. O neo-liberalismo encontrou na automação e big data uma ferramenta de sonho. Tornou-se possível lucrar com investimentos que não vão além de infraestruturas digitais mínimas colocando os clientes/consumidores no papel de empregados/trabalhadores. Naughton observa, e muito bem, que são empresas que "that uses technology in order to intervene/operate in the offline world. It has, however, borrowed two ideas from the pure internet operators. First, it takes the standard tech business model of being a “platform” (translation: intermediary) – putting buyers in touch with sellers, taking a cut, harvesting the data and taking no responsibility for anything". As tecnologias de vigilância e medição que permitem isto seriam noutros contextos consideradas pesadelos totalitários orwellianos, mas neste são consideradas importantes ferramentas de flexibilização e eficiência. Os media ficam-se por retratos acríticos destes empreendedores disruptivos, que como Naughton observa certeiro, são "new digital capitalism is neoliberalism red in tooth and claw, which is why they minimise the number of “ordinary” (ie non-geek) workers on their payrolls, outsource everything they can, despise trade unions, view regulators as barriers to “innovation” and are outraged by the temerity of European institutions that seek to curb their freedoms of action".

Lego car becomes an avatar for a worm: Traduzindo: reproduziu-se digitalmente o ADN de um organismo vivo (um nemátodo), e este ficheiro foi utilizado para controlar o brick de um robo Lego Mindstorms, que se moveu de forma autónoma com um cérebro virtual que replica um animal real. O próximo passo é induzir mutações no organismo virtual. Se vivesse no nosso tempo contemporâneo Viktor Frankenstein seria um homem feliz.