quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Salammbô


Philippe Druillet (2010). Salammbô, L'Integrale. Issy-Les-Moulineaux: Drugstore.

Inspirado no romance homónimo de Flaubert, Salammbô leva o intrépido Lone Sloane, personagem de Druillet, a um planeta que espelha as guerras civis cartaginenses. Mistificado pela beleza da sacerdotiza Salammbô, Sloane encarna-se como um dos mercenários que irá combater os exércitos púnicos numa revolta sem quartel, sendo salvo no último momento possível pelos fieis companheiros, tripulantes da nave de geometria variável que sulca os abismos espaciais.

Se a narrativa é pesada, com uma forte dose de pomposidade grandiloquente, o que espanta neste álbum é o talento gráfico de Druillet à solta, sem restrições. Cada vinheta é um espanto, cada prancha um mergulho num psicadelismo gráfico que se constrói a partir de um traço horror vacui. Cidades exóticas, estranhas criaturas, portentosos combates, monstros grandiosos, estonteantes sacerdotisas, arquitecturas, féericas, entre tantos outros elementos oníricos e surreais que induzem sensações de espanto no leitor. Ou, em bom rigor, no fruidor, porque este é um daqueles livros em que a leitura é algo de secundário. É o acto de ver, de fruir da iconografia, que agarra quem o lê. E o autor nem esquece ilusões de óptica a servir de moldura a textos. Druillet é um dos mestres da bande dessiné, com um estilo algo datado, é certo, mas que não deixa de ser deslumbrante pela representatividade de uma época e puro sense of wonder gráfico. A narrativa fica em segundo (ou terceiro...) plano. Nesta obra, é o prazer fantasista do desenho que está em evidência.