quarta-feira, 2 de julho de 2014

Havia uma rapariga, que era a Arlete...


Work in progress. Tentar capturar e transmitir a míriade de sensações de uma visita semi-orientada a um bairro lisboeta. Misturar dérive fotográfica com recolha patrimonial imaterial e impressões dos sentidos. Não é tarefa fácil. O ponto de partida é uma frase que captou a minha atenção. Termina com o começo de uma história.


As fotos não nos contam toda a história. São demasiado fixas no tempo. Congelaram um momento no tempo, fixam milhões de cores, mas de fora fica a percepção tridimensional, os cheiros, os ruídos, a brisa que sopra e as tonalidades das nuvens em movimento.


Para dar uma razoável aproximação dos volteios por entre as ruas pensei no Hyperlapse, uma curiosa ferramenta webGL que corre sobre o Google Street View para nos dar a ilusão de movimento a partir de itinerários mapeados e do grande manancial de fotos georreferenciadas. Infelizmente as ruelas mais interessantes do bairro da Madragoa ainda não fazem parte do servidores do Street View.


E, claro, o som, que nos conta as experiências de um passado que julgávamos intocável, mantendo viva a memória dos sons de uma outra era, de uma outra cidade. Mas faltam-me coisas. Falta-me o som das ruas, das gentes que passam, da vida quotidiana. Suspeito que ainda terei que lá passar, de telemóvel em punho, para captar o que falta. E tentar algo que falhou, a digitalização 3D de pormenores do espaço. Tentei isso no claustro do Convento das Bernardas com resultados desastrosos. O 3D dá-me o registo da fisicalidade espacial.

Nestas coisas do património imaterial comecei a recordar-me do Sensorama de Heilig e dos múltiplos projectos de realidade virtual que, passo a passo, melhoraram os níveis de realismo na captura e recriação do real (mesmo que em fantasia criativa). Fixar memórias empobrece se nos ficarmos pela foto. Os equipamentos e técnicas de que hoje dispomos possibilitam ir mais longe, transmitindo aquilo que nos torna singulares na nossa curiosidade: a capacidade de sentir e partilhar experiências. Algo que curiosamente também é verdade nas ciências astronauticas. Enviar robots para o espaço pode ser mais económico e eficiente, e é-o, de facto, mas precisamos de astronautas para sentir a experiência de pisar um mundo celeste ou viver em imponderabilidade. Somos humanos, necessitamos de sentir e experimentar.