sexta-feira, 13 de junho de 2014

The Last Battle


Cornelius Ryan (1995). The Last Battle. Nova Iorque: Simon and Schuster.

Para comemorar os 70 anos do dia D lembrei-me que seria uma boa homenagem pegar neste livro de Cornelius Ryan. Já tinha lido o The Longest Day, clássica crónica de jornalismo narrativo que nos leva aos campos de batalha da Normandia através do olhar e das memórias ainda quentes dos combatentes, livro que inspirou o icónico hino cinematográfico da coragem militarista à antiga. Estou a falar de the Longest Day, não de Saving Private Ryan, embora possa supor com muita segurança que Spielberg olhou com atenção para a obra de Ryan ao conceber o seu filme. Desta vez, pensei que seria boa ideia espreitar como termina a história e acompanhar a queda de Berlim pelas palavras do autor neste livro originalmente publicado em 1966.

Ryan foi jornalista e acompanhou a a II Guerra nos principais teatros de guerra ocidentais. Nos seus livros vai um pouco mais além do relato noticioso e consegue tecer uma imagem coerente, tocante e que nos coloca no centro da acção com o necessário distanciamento histórico. Este The Last Battle é um interessante exemplo disso. Coligido a partir de factos históricos e depoimentos de combatentes, conta-nos uma história cujo final todos conhecemos sob o ponto de vista de quem a viveu.

Vamos saltando por entre o olhar de militares da Wermacht que tentavam cumprir uma tarefa impossível enquanto viam o trágico regime a desabar sob o peso da sua violência, dos soldados aliados em travessia combativa pela Europa ocidental, de civis berlinenses cujas histórias individuais são as mais tocantes, dos marechais soviéticos que comandaram o cilindro russo que esmagou os alemães. Koniev e Zhukov são os mais simbólicos depoentes para esta obra, mas os defensores de Berlim, figuras do regime deposto e altos oficiais aliados fornecem o resto das peças do puzzle geostratégico. Mas, por interessante que seja rever os grandes movimentos e acções militares, o foco deste livro está no terreno, nas ruas de uma cidade dominada pelo sufoco nazi, arruinada pelas bombas anglo-americanas e avassalada pelo cilindro compressor soviético.

Ryan coloca em evidência o entusiasmo anglo-americano, o poderio do colosso soviético, a tenebrosa incompetência do regime nazi e a insanidade dos últimos dias, a coragem desesperada dos homens da Wermacht esmagados entre a estupidez das figuras do regime e o poderio armado que caía sobre as suas cabeças, e o estoicismo dos habitantes de uma cidade-símbolo.

Sabemos que a história se constrói através de fragmentos históricos e depoimentos, mas não é o que sentimos enquanto leitores. Este livro lê-se como um romance onde múltiplos narradores nos levam a conhecer a sua guerra, conferindo-nos um outro olhar sobre uma história bem conhecida. Claro que se queremos ser rigorosos na história não dizemos que esta é a conclusão do Dia D, mas antes o ponto final de uma narrativa que começou às portas de Moscovo ou no cerco de Estalinegrado.