segunda-feira, 2 de junho de 2014
Comics
The Massive #23: Com a história de Callum Israel quase arrumada, The Massive pode seguir um caminho mais interessante: o ser um espaço conceptual para testar ideias de possíveis futuros num mundo arrasado pelo colapso ambiental. Olhar para as aventuras do mentor da organização ambientalista que dá o ponto de partida foi uma boa desculpa para o necessário périplo pelo mundo ficcional, mas o interessante na série é o seu conceito e agora Brian Wood pode explorá-lo à vontade. É o que se nota neste corrente arco narrativo, onde uma coluna de camiões-cisterna atravessa o deserto do Sahara. Vão a caminho de Marrocos, transportando um carregamento de água recuperada aos antigos poços de petróleo da Arábia Saudita, para criar um lago artificial que mitigue a seca prolongada trazida pela alteração dos padrões climatéricos. É interessante Wood colocar o reino Saudita como uma futura potência graças à água acumulada no seu subsolo para encher os vazios deixados pelo sugar do petróleo. E fá-lo com ironia. Quem protege a coluna dos raides de bandidos armados são mulheres, viúvas ou esposas de homens imigrados. Profunda ironia, colocar os destinos financeiros do reino misógino nas mãos de aguerridas mulheres do Sahel. A vinheta que destaco é genial. Num mundo em colapso, os luxos dos melhores tempos passados tornam-se artefactos esquecidos.
Mind MGMT #22: Vou arriscar uma heresia e dizer que a continuidade desta série começa a tornar-se cansativa. Sente-se o esgotar criativo ao longo das páginas de uma história onde um grupo de rebeldes tenta recuperar uma velha organização e lutar contra um grupo de antigos elementos degenerados em terroristas. Claro que o interesse está na organização ser especialista na semiótica de combate, mas mesmo assim cansa. Ok, passo a explicar. Semiótica de combate. Utilizar simbolismos, mensagens subliminares, espiritualismos e outras técnicas mais outré como arma de guerra. Há um momento em que Matt Kindt nunca deixa de estar genial: nas curtas com que abre e encerra o seu comic, momentos perfeitos de surrealismo new weird. Neste mês, um pintor cujos quadros levam os apreciadores de arte à loucura... mas afinal as imagens são inócuas, o segredo está nas molduras...
Rover Red Charlie #06: Confesso que desta não estava à espera. Garth Ennis deu um final feliz à sua road trip pós-apocalíptica com cães. Antes ainda nos reserva um enervante e violento clímax, junto com uma reflexão sobre liberdade individual e o que nos define enquanto pessoas, utilizando a metáfora canina. O final, de uma simplicidade encantadora, deixa vontade de começar a ladrar I'm a dog I'm a dog I'm a dog. Esta série merece ser lida. Consegue encantar o leitor com a ingenuidade do antropomorfismo sem esquecer o toque visceral de Ennis. E as ilustrações dos animais são excessivamente adoráveis.
Trees #01: Warren Ellis de volta aos comics de ficção científica e, para não variar, com uma ideia de dar a volta à cabeça. A Terra foi invadida por uma espécie alienígena que nem se apercebe que aquelas formigas de duas pernas que eregem cidades são uma espécie inteligente. Gigantescas árvores extraterrestres erguem-se em locais aleatórios no planeta, soltando de vez em quando uma seiva destruidora. Mas a vida continua, e as engrenagens dos governos, dos jogos de interesse e das ambições continuam a rodar, acomodadas ao mistério. Suspeito que Ellis nos quis dar um Day of the Triffids para o século XXI. O conceito de plantas extra-terrestres que invadem o planeta tem uma das suas melhores expressões no clássico romance de John Wyndham, livro que de certeza Warren Ellis teve em mente ao conceber este Trees.