terça-feira, 6 de maio de 2014
The Global Soul
Pico Iyer (2001). The Global Soul: Jet Lag, Shopping Malls, and the Search for Home. Nova Iorque: Vintage Books.
Confesso que sempre que pego num livro de Iyer fico com um misto de admiração e inveja. Viajante consumado, deambulador poético pelos recantos do mundo, Iyer é um desenraízado que encontra as suas casas algures pelo mundo. É um consumado escritor de viagens, mas não esperem dele guias turísticos para as atracções do exotismo ou pormenores peripatéticos dos estranhos costumes das populações dos trópicos, das estepes ou das grandes metrópoles. Não deixa de ir olhando para estes detalhes, mas não são o cerne do que escreve. Iyer mistura o périplo pelo espaço exterior com viagens ao interior riquíssimo da alma humana, decomposto com uma intensa solidão e inquietude que busca, constantemente, o prazer da viagem. É admirável, e como não sentir uma ponta de inveja por um caminhante do mundo que veio encontrar abrigo espiritual numa Kyoto imutável no tempo?
Neste conjunto de ensaios Iyer explora a solidão da viagem, o aeroporto como não-lugar de transiência e transformação, a busca pela compreensão das outras gentes e outros lugares, o conflito entre tradições locais e um espírito de normalização globalizante, as derivas culturais que culminam no multiculturalismo, a visão de uma Inglaterra como casa espiritual pela língua e cultura que choca com a realidade do país em si, e despojos do império vistos por aqueles que se deslocam por entre as antigas colónias. Não é claro o que o autor quer dizer por Global Soul. No seu caso, designa a alma errante de um anglo-indiano crescido entre a Califórnia e Londres, em busca da espiritualidade simples, armado com uma profunda bagagem literária e uma curiosidade insaciável pelo que se encontra para lá da linha do horizonte. Não é certamente o enfado multiplicado pelos efeitos do jetlag do viajante global ou o deslumbre simplista do turista com os paraísos artificiais resplandecentes sob o sol dos trópicos. É esse o espírito de viajante que confesso também partilhar, embora as minhas possibilidades de trotar o mundo e vir acabar frente às amendoeiras em flor de Kyoto sejam quase inexistentes.