quarta-feira, 14 de maio de 2014

Guerra Futura 2104 - Gli Eroi del Domani



Stefano Vieti ( Universo Alfa #07: Guerra Futura 2104 - Gli Eroi del Domani. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

A par com Dylan Dog este é um dos mais interessantes fumettis saídos da casa editorial Bonelli. Universo Alfa Guerra Futura é uma das muitas variantes de Nathan Never, o policial futurista da editora. É um conjunto de títulos assumidos como de ficção científica, que para além de contarem com o epónimo Nathan Never ainda inclui a comédia policial de Legs Weaver, o périplo galáctico infantil de Asteroide Argo e o grimdark de Squadra Fantasma. Distingue-os a abordagem e o uso de fazem da estrutura narrativa da FC. Deste conjunto de títulos apenas Asteroide Argo e Guerra Futura se podem apelidar com toda a propriedade de FC. Nos restantes o futurismo é um adereço para aventuras de acção e policial.

Guerra Futura está bem inserida nas estruturas da FC militarista. Não deixa nada a dever a Heinlein, Haldeman ou Weber. Outro ponto de interesse é que as suas histórias do futuro se passam no passado. O pivot da série é uma jornalista que, muitos anos após a violenta guerra que opôs a Terra às colónias orbitais, se dedica a investigar as pequenas histórias de perda, honra e coragem que se perdem na historiografia oficial. Esta premissa permite aos argumentistas criarem pequenos episódios auto-contidos sem terem de pegar nas personagens icónicas da editora, o que habitualmente obriga a linhas narrativas mais convencionais.

Neste episódio mergulhamos nas profundezas do mar com uma nave espacial-submarino (tenham paciência, fumetti não o seria sem inconsistências destas) capaz de de teleportar para o espaço aéreo planetária e se oculta por entre um cardume de baleias mutantes gigantes para atacar o centro nevrálgico militar terrestre nas ilhas do Hawaii. Parece uma história directa de aventura militar, com a superioridade das defesas terrestres a ser derrotada por tecnologia antiga para as quais as contra-medidas já foram esquecidas, mas a real história é ambientalista e prende-se com o sacrifício dos incautos animais marinhos.

Na segunda história vamos ao deserto, a outra base militar nevrálgica prestes a ser invadida por uma força de implacáveis andróides. Perante a derrota, o comandante ordena a um pelotão que active o sistema de auto-destruição da nave enquanto evacua o pessoal da base. Os andróides são eficazes e aniquilam o pelotão, abatendo a sua capitã quando esta hesita por poucos segundos ao activar os sistemas de destruição. Parece um acto de cobardia, mas é o que permite aos soldados em fuga afastar-se do raio de acção da explosão e sobreviver à invasão da sua base.

Termina com aventura pura. Os tripulantes de um tanque terrestre abatido no deserto refugiam-se por entre as aguerridas tribos das montanhas, que vão dando combate como podem aos andróides invasores. Refugiados numa antiga base militar do século XX escavada nos rochedos, acossados pelas forças inimigas, encontram na antiga tecnologia a sua salvação, quando um dos pilotos reactiva um centenário Sukhoi Flanker e aniquila à bomba os andróides atacantes.

Estas histórias são contadas como reminiscências dos sobreviventes, envelhecidos num mundo em paz que não se interessa pelas suas memórias. Na tradição da melhor FC militarista somos levados a cenários de guerra futura onde homens e máquinas se digladiam, com o foco nas pequenas histórias que se desenrolam com o cenário de combates em fundo. Pela temática e forma como a utiliza, Guerra Futura é dos fumettis Bonelli aquele que realmente se pode qualificar como de ficção científica.