sexta-feira, 9 de maio de 2014

Dylan Dog: Collezione Storica a Colori Volume 3


Tiziano Sclavi (2013). Dylan Dog: Collezione Storica a Colori Volume #3. Milão: Sergio Bonelli Editore/Gruppo Editoriale L'Espresso.

La Zona Del Crepuscolo: Tiziano Sclavi delicia-se em citar e homenagear a obra gráfica e literária dos seus autores favoritos. A forma como o faz é um do encantos de Dylan Dog. Neste episódio, o horrendo The Facts in the Case of M. Valdemar de Edgar Allan é o alvo da homenagem de Sclavi. A história clássica do homem que fica suspenso entre a vida e a morte por efeito do mesmerismo é aqui levada mais longe. Na pacata vila escocesa de Inverary o tempo parece ter parado. E está parado. Os seus habitantes, vítimas de uma mistura de experiências para atingir a imortalidade e um hipnotizar generalizado, estão todos mortos mas suspensos no limiar da vida. Não podem morrer, mas a sua vida é um simulacro repetitivo de padrões de comportamento normais, entrecortadas por visitas ao médico local para reparar danos aos seus frágeis corpos. Dylan é arrastado à localidade num dos habituais enredos oníricos de Sclavi, e opta por deixar as coisas como estão. Estes monstros não são monstros, estes zombies são pessoas normais apanhas numa ilusão de vida, e resta-lhe esquecer esta misteriosa vila à beira de um lago escocês. Lago esse que, numa das muitas vénias literárias de Sclavi, é atravessado nas noites de nevoeiro por um veleiro tripulado e capitaneado por zombie que, recordando quem foi, decidiu apelidar-se de Caronte.

Il Ritorno Del Monstro: Outra aventura onde Sclavi dá asas ao seu conhecimento da tradição literária de terror. Parte da aventura recorda as histórias clássicas dos segredos dos acasos de descendências monstruosas de famílias, ocultos em torrões esquecidos dos palacetes ancestrais mas que vão provocando arrepios e mortes misteriosas. A outra vertente narrativa homenageia os slasher clássicos, com uma história de um assassino que, anos após cometer atrocidades que para sempre marcaram uma jovem rapariga, volta para a assombrar. Sclavi é demasiado talentoso para se ficar pelos lugares comuns e inverte com elegância os pressupostos narrativos. O mostro disforme, alvo fácil do ódio, é um protector e a jovem vítima é afinal o verdadeiro monstro. Resta a Dylan deslindar o mistério, decifrando as peças do puzzle sangrento.

Alfa e Omega: O ecletismo de Sclavi está em evidência nesta fábula onde consegue misturar elementos dos mais clássicos filmes de ficção científica. Tal como na Guerra dos Mundos algo se despenha no campo inglês. Como em Starman, uma criatura toca no planeta. Como em muitos filmes de série B, e especialmente em The Thing, monstros metamorfos assombram cidades, e humanos já deixaram de o ser sem o saber, contaminados por algo de alienígena. Como em Andromeda Strain e Close Encounters of the Third Kind parcerias entre agências secretas e científicas investigam com panóplia tecno-futurista os fenómenos. Estes adereços de iconografia científica, os fatos, veículos e infraestruturas replicam a estética de 2001, ao pormenor de ser ler Frank Poole num visor de fato de contenção e de uma cena em que Dylan assiste ao primeiro contacto com um artefacto caído do espaço ser decalcada da cena do filme onde os cientistas investigam o monólito encontrado na Lua. No final, um personagem replica o monólogo do andróide Roy Batty ao deixar-se morrer. Time to die, diz em italiano, mas ainda há espaço para um aceno a Planet of the Apes com a revelação que a criatura alienígena é afinal um chimpanzé enviado para o espaço a bordo de um satélite nuclear que em vez de explodir vagueou pelos confins do sistema solar e caiu num buraco negro onde contactou com outras civilizações extraterrestres. Evoluído para lá dos seus limites, regressa à Terra para morrer, mas por interposta influência impregna uma mulher com uma criança, vénia à starchild de Kubrick e Clarke em 2001. Um final brilhante, homenagem profunda ao melhor da filmografia de ficção científica, para este terceiro volume da colecção histórica a cores de Dylan Dog escrito por Tiziano Sclavi.