Brandon Graham, et al (2012). Prophet Volume #01: Remission. Berkeley: Image Comics.
Quando pegamos num comic temos sempre algumas expectativas. O género é formalista e repete muito as suas temáticas e estruturas narrativas. Note-se que estou a falar de comics, vertente mais comercial da BD. Quando pegamos num comic de ficção científica que nos promete um homem que irá restaurar o império terrestre, ficamos à espera de uma space opera que detalha as aventuras de um herói maior do que si próprio, que vencerá com força e argúcia as armadilhas dos seus inimigos e restaurará a liberdade e força da espécie humana. É isso o que Prophet nos promete, e o que nos dá, mas o caminho que leva é de todo inesperado.
Viajemos até um futuro distante, onde na Terra os humanos involuíram para algo pouco melhor do que animais cultivados para alimento de espécies alienígenas. Houve um império, houve uma guerra, e a Terra perdeu. Restam estes sub-humanos e ruínas de estruturas tecnológicas para recordar a espécie que um dia imperou sobre diversos planetas e cujo berço é hoje a casa de exóticas civilizações extraterrestres. Mas no passado distante planeou-se para esta eventualidade, ocultando-se reservas e tecnologias adormecidas, prontas a acordar assim que um herói eleito se revelasse. E, num dia longínquo, John Prophet emerge das profundezas para restaurar a glória terrestres.
Parece um argumento linear, não parece? Mas muito pelo contrário. Não há um Prophet, há milhentos, clones de um distante antepassado que vão despertando às ordens dos cérebros cibernéticos dos satélites de combate que assumem a forma de inocentes rapariguinhas. Para quem espera uma narrativa herói que galvaniza os oprimidos e os lidera, ao estilo de um Buck Rogers adormecido na mina ou de um John Carter, libertador de Marte, espera-o uma intrigante surpresa de uma legião de clones, instrumentos ao serviço de algo desconhecido.
O outro aspecto intrigante da série é o seu afastamento da iconografia tradicional dos comics de ficção científica. A sensibilidade gráfica não é de todo de deleite tecno-futurista, com naves portentosas e armas fetichizadas. Está mais próximo do onirismo da Garagem Hermética de Moebius ou da estética exótica de Valerian, Agente Espácio-Temporal do que do que estamos habituados na BD americana. A Terra é um deserto, os alienínegas são criaturas surreais saídas dos sonhos de Hyronimus Bosch, as suas tecnologias bio-constructos simbióticos. O primeiro dos Prophets tem de enfrentar caçadores de cabeças de quatro braços, infiltrar-se numa cidade de geleia que é o cadáver em decomposição de uma nave-colmeia, fugir dos insectos gigantes que assolam os desertos, refugiar-se numa caravana de nómadas liderados pela múmia do seu rei, e trepar a uma torre de babel, antigo elevador espacial, à volta da qual os mais bizarros alienígenas tentam a sua sorte a tentar recuperar artefactos da lendárias tecnologia terrestre, para entrar num satélite de combate com o prometedor GOD como nome.
Meti-me neste primeiro volume para perceber o porquê do sucesso e continuidade da série da Image. Esperava divertir-me a ler uma história previsível, entre intrigas e batalhas no espaço. Saiu-me uma série surpreendente, próxima da sensibilidade surreal da ficção científica europeia e com uma premissa inesperada, que subverte as convenções do género.
Warren Ellis, Paul Gulacy (2004). Reload. La Jolla: Wildstorm.
Quando o presidente dos EUA é assassinado por uma agente ultra-secreta o responsável pelos serviços de segurança presidenciais vê-se obrigado a descobrir uma vasta e surpreendente conspiração. Afinal, a assassina estava a tentar fazer justiça eliminando uma cúpula presidencial dominada pela mafia. Os dons e cappos di tutti cappi fartaram-se de ver outras elites a controlar o poder governamental e decidiram tomar o poder de forma oculta. Warren Ellis em estado puro, com doses fortíssimas de acção e das suas hipermodernas especulações.