"Most fiction evades the real power afoot in our times. I don’t dislike conventional literature; I’m merely not a fan of naïveté."
Ainda a meio da leitura desta entrevista de Gregory Benford publicada na IEET, não pude deixar de reparar nesta afirmação estrondosa sobre a incapacidade da literatura mais erudita em lidar com as reais forças que moldam o nosso mundo contemporâneo. Note-se que é uma reflexão, não um assalto à cultura literária tradicional vindo de um cientista/escritor implantado nas zonas perigosas dos géneros. Vista em contexto, este é um acutilante pensamento sobre o poder da Ficção Científica para nos levar a compreender as forças transformativas que caracterizam o momento contemporâneo:
"I often sense a thinness in contemporary fiction about the way the world operates, making the conventional world primary when it’s not. That’s just a lazy habit. The universe science reveals to us is comically unrelated to what our primitive senses report, after all.
I feel that science and its Baconian link to technology is the quiet driver of most modern history, and we should realize that if we’re to master our own times. Sf speaks to and for the community behind that powerful driver. Most fiction evades the real power afoot in our times. I don’t dislike conventional literature; I’m merely not a fan of naïveté."
A chave está na afirmação "technology is the quiet driver of most modern history", algo que é recordado no ar frenético da discussão mais mainstream sobre as transformações sociais trazidas pela tecnologia, em discursos que oscilam entre surpresa com a rapidez transformativa, deslumbre com as delícias dos gadgets ou temores catastrofistas sobre o colapso iminente da humanidade perante a ameaça dos teares mecânicos/fábricas tayloristas/máquinas inteligentes/inteligências artificiais/redes sociais/isolamento na internet. Naqueles acasos do inconsciente colectivo deparei recentemente no Sublime Dreams of Living Machines de Minsoo Kang com esta citação de Samuel Butler, nos idos do século XIX, a temer em relação às máquinas industriais que "we are daily giving them greater power and supplying by all sorts of ingenious contrivances that self-regulating, self-acting power which will be to them what intellect has been to the human race. In the course of ages, we will find ourselves the inferior race". A tecnologia que criamos modela-nos, como intuiu McLuhan, e de facto as expressões culturais mais populares fogem da cultura científica, nalguns casos ignorando-a intencionalmente. E depois surpreendem-se.
A entrevista, que não se fica por estes tiros na guerra cultural entre culturas mainstream e de género, recomenda-se: A scientist-author at the heart of hard science fiction.