segunda-feira, 8 de abril de 2013

Time Warp



Apesar de ter vindo a perder importância no universo de uma DC Comics apostada em emular a Marvel, os raros estertores da Vertigo ainda nos reservam boas surpresas no panorama da chancela que melhor dinamizou os comics como leitura adulta, complexa e erudita. Este Time Warp é uma dessa boas surpresas, mesmo que o esparramar na capa do nome de David Lindelof, um dos responsáveis do desastre conceptual que foi o filme Prometheus, possa augurar algo de catastrófico. Comic antológico, reúne histórias curtas de ficção científica que nalguns casos vão para lá da promessa anunciada pelo tema dos paradoxos temporais.

É precisamente Lindelof, bem acompanhado pelo traço de Jeff Lemire, que abre as hostilidades recuperando o clássico Rip Hunter, Time Master numa intricada história de circuitos fechados em viagens no tempo e morte sob as dentuças de dinossauros. Ao contrário de Prometheus, Lindelof sai-se muito bem com este R.I.P.. Tom King escreve e Tim Fowler ilustra um brilhante what if em It's Full of Demons. Duas crianças brincam num prado. Um alienígena surge de uma fenda no tempo e mata um rapaz. A sua irmã, traumatizada, acaba internada num hospício onde envelhece assistindo aos acontecimentos sangrentos do século XX, que vão sendo progressivamente mostrados com divergências da história real. É na última vinheta que a reviravolta é mostrada com um remate perfeito que nos mostra que a rapariga traumatizada era a irmã de Adolf Hitler. Um exemplo muito bem conseguido de um dos mais clássicos artifícios narrativos de ficção científica.

Uma variação do momento recursivo que se repete eternamente é dada por Gail Simone em I Have What You Need, ilustrada com cores vivas por Gael Bertrand e Jordi Bellaire. Simon Spurrier e Michael Dowling assinam The Grudge, história onde a super-ciência é tratada como espectáculo numa guerra informal entre dois cientistas que se divertem a inventar formas cada vez mais exóticas de se insultarem um ao outro. Toby Litt assina um confuso episódio dos Dead Boy Detectives, um spinoff do Sandman de Neil Gaiman, com continuação prometida numa futura antologia. A tecnologia digital e o sobrenatural colidem em She's Not There, história de assombrações computacionais assinada por Peter Milligan e ilustrada por M. K. Perker. Ray Fawkes escreve e Andy McDonald ilustra 00:00:03, história sobre a morte iminente de uma piloto de robots de combate naquele que é o momento menos bem conseguido da antologia.

O genial Matt Kindt escreve e ilustra Warning: Danger, sátira subtil às histórias onde soldados equipados com maravilhas tecnológicas combatem pela supremacia total do campo de batalha. A antologia encerra com chave de ouro numa homenagem ao clássico The Big Time de Fritz Leiber escrita por Dan Abnett e ilustrada por I.N.J. Culbard, autores da série The Deadwardians. The Principle mostra-nos o dilema moral de guardiães do tempo, cuja missão de salvaguardar a integridade da continuidade histórica ameaçada por legiões de viajantes do tempo com sede de vingança obriga a proteger os piores facínoras da história da humanidade. 

Sabemos que a Vertigo está a abaixo do meio gás, mantendo-se com reedições dos seus títulos clássicos e quatro séries de continuidade regular que, apesar das suas virtudes, não representam o melhor do nível que a chancela habitou os leitores. American Vampire cansa, The Unwritten apesar dos rasgos de brilhantismo esgotou o seu substrato e está condenada a repetir-se conceptualmente, Saucer Nation é tão sensaborona que mal de dá por ela e Fables é outro exemplo de algo que se repete até à exaustão. Apesar das mudanças editoriais, a chancela é de prestígio e vai sendo mantido viva com pequenas edições que servem para refrescar a memória e repescar momentaneamente personagens pouco utilizados. Por boas que sejam, ficam sempre aquém do esperado.