quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ficções

We Have a Pope!: No rescaldo do recente conclave papal, a The Atlantic recupera um divertidísismo  e levemente insano conto de Chris Buckley. E se, pergunta-se este autor, um profissional sem escrúpulos do marketing fosse contratado para tentar influenciar a eleição de um novo papa a favor de bispos americanos? Digamos que a coisa termina com uma batalha campal entre apoiantes dos bispos americanos devidamente contratados pelo guru do marketing e seguidores dos bispos franceses em que nem tanques do exército italiano conseguem travar o caos em Roma. E um final infeliz motivado pelo colapso do principal apoiante, apanhado em esquemas bizantinos de fraude financeira. Tudo contado num tom genaialmente divertido por um narrador que, nas suas próprias palavras, diz I took to Rome like a Visigoth. Eloquente.

Bottoms Up: Qual é o limite absoluto das próteses electrónicas que fazem de intermediário nas relações humanas? Namwali Serpell utiliza o artifício do exagero absoluto num conto onde um casal em que ambos sofrem de germofobias utiliza uma máquina prostética para ter relações sexuais sem qualquer contacto físico. Os problemas começam quando para um dos elementos as sensações electrónicas se tornam mais intensas do que as emocionais. Apesar de em termos literários não ser das melhores histórias recentemente publicadas, reflecte seriamente nas consequências da intermediação sensorial electrónica com uma vénia respeitosa ao orgasmatron de Woody Allen e referências veladas ao campo dos teledildonics e interacção remota.

Deus Ex Arca: E se... uma civilização transdimensional avançada desse à humanidade uma dádiva capaz de responder a todas as dúvidas existenciais, resolver todos os problemas humanos e elevar a espécie humana, transcendendo os seus limites físicos, mentais e tecnológicos? Infelizmente, a dádiva vem numa caixa simples que é encontrada por uma criança e os resultados são bizarramente catastróficos. No final, os bondosos alienígenas mostram-se perplexos com a incapacidade humana de inverter a engenharia de uma simples caixa mágica. E tentam novamente. O resultado é um voo de estranheza e surrealismo que mistura ficção científica, terror e fantasia num conto onde cada parágrafo nos reserva surpresas de um extraordinário onirismo. Ler este conto de Desirinia Boskovich trouxe-me à memória as iconografias de Magritte e Delvaux com um toque do fantástico suave de Gaiman.

The Thinking Molecules Of Titan: O recentemente falecido Roger Ebert distinguiu-se mais pela escrita de críticas cinematográficas do que como autor de ficção, mas em jeito de memorial a New Yorker recuperou um pequeno conto de ficção cientifica, onde cientistas especulam sobre a probabilidade de existências de vida na lua de Saturno de uma forma extremamente lírica.