sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Falhas sistémicas



Presidentes dementes esmurraram o botão vermelho que libertava os mísseis nucleares intercontinentais, mas o sistema eléctrico passou um bom par de décadas sem manutenção. Houve faíscas, saiu um fuminho com cheiro a plástico queimado do interior da consola do botão vermelho, mas os alarmes nem chegaram a acordar os soldados adormecidos de vigilância nos silos subterrâneos. Os mísseis continuam plantados no subsolo, a aguardar hidrazina fertilizante e a ordem que os liberte para semear ogivas atómicas múltiplas a partir da estratoesfera. Aguardam, pacientes, pelo seu momento de glória suborbital enquanto os técnicos labutam para reparar as ligações eléctricas das consolas de lançamento.

Também não apareceram vírus mortais ou bactérias antropofágicas, deuses vingativos ausentaram-se, asteróides falharam redondamente a pontaria, cataclismos naturais mantiveram o tempo geológico como escala de referência para medir velocidades de actuação, as gosmas cinzentas de robótica nanotecnológica auto-replicante preguiçaram nos laboratórios e nenhuma espécie alienígena mais afoita se deu ao trabalho de invadir este traseiro de judas com raios da morte e outras armas de aniquilação maciça.