terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
The Hollow Earth
Rudy Rucker (2006). The Hollow Earth. Austin: Monkeybrains Books.
Confesso um certo gosto pelo tema da terra oca. As teorias de buracos nos pólos que conduziriam a uma enorme caverna com um sol interior têm um certo fascínio por fugir da normalidade das descobertas científicas. Sabendo que são ideias alucinadas, seduzem-nos pela mesma razão que terras perdidas ou ilhas esquecidas: espaços onde a ciência não desvendou o imaginário, locais onde ainda podemos dizer que aqui há dragões. A teoria da terra oca, ainda hoje defendida por acérrimos defensores (também há quem ainda, contra todas as evidências, defenda que a terra é plana) esteve em voga em meados do século XIX. Influenciou Edgar Allan Poe, que a visita em The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket, e os romances de Edgar Rice Burroughs da série Pellucidar. As explorações polares com o seu flagrante falhanço na descoberta de buracos de acesso ao interior cavernoso do planeta enterraram de vez esta curiosa teoria, mantida viva apenas por fanáticos de misticismo agarthianos, raças subterrâneas e total incapacidade de compreender as realidades geológicas. Ideias ilusórias, mas divertidas.
Rudy Rucker, autor marcante pela sua teralogia 'Ware, diverte-se nesta obra com uma reescrita da obra clássica de Poe. Sendo Rucker, podemos esperar descrições bizarras de topografia n-dimensional na percepção espacial. É aí que o livro se torna interessante. Boa parte, narrando as desventuras dos personagens na sua demanda pelo interior, deixa-nos uma desconfortável sensação de desinteresse mitigada por um curioso sub-texto anti-racista. É uma engraçada divagação sobre um tema de sanidade duvidosa, mas longe do melhor deste singular escritor.