terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Frutos Estranhos

Talvez para contrabalançar a iconografia carnavalesca que mitifica a imagem do Brasil o Centro de Arte Moderna apresenta duas exposições de artistas brasileiras com estéticas diametralmente opostas.

Quatro Estações de Beatriz Milhazes é uma explosão de cor em colagens de grandes dimensões, vibrante em formas simples, cores vivas e materiais reaproveitados. Um festim colorido para os olhos.



Para um tecnologista, a exposição antológica Frutos Estranhos de Rosângela Rennó é um mergulho na nostalgia de media obsoletos, iconografias pessoais, fixação de memórias fugidias em objectos tecnológicos. Mistura resquícios fotográficos, equipamentos obsoletos e descartados, material impresso tornado irrelevante pela marcha do tempo.



As tecnologias dos media apresentam usos muito pessoais quando aplicadas ao indivíduo. Todos sentimos aquele impulso de registar o efémero, fixar a memória, tentar imortalizar a impressão do momento. É significativo para o indivíduo, mesmo que irrelevante para a sociedade em geral. Quem se interessa por fotografias de momentos pessoais, registos da banalidade do dia a dia? Na verdade, uma miríade de pequenas irrelevâncias gera uma substancial paisagem nostálgica, que confrontam o espectador com memórias alheias e que o levam a meditar sobre as suas próprias percepções do passado.



Misturando objectos encontrados, registos tecnológicos contemporâneos e equipamentos quase arqueológicos na história da evolução tecnológica, esta exposição mergulha-nos num mundo de percepções com o seu quê de McLuhan. Recorremos a equipamentos técnicos para registar as nossas percepções, e o uso destes altera o que esperamos daquilo que percepcionamos. 

Há outras dimensões nos trabalhos expostos. Estas foram as que me tocaram ao percorrer as salas cheias de memórias estranhas.