Confesso que não fui votar nas últimas europeias. Ainda votava em Lisboa e não tive paciência para ir lá de propósito participar nas eleições. Desta vez, mesmo que ainda que tivesse que ir daqui para o liceu Filipa de Lencastre, decidi ir votar. Em parte devido ao papel preponderante que a UE tem nas nossas vidas (como o recente caso das leis sobre propriedade intelectual, sabiamente chumbadas pelo parlamento europeu, demonstra). E em parte porque, enfim, sou professor e apesar de não me identificar com radicalismos ou aproveitamentos políticos sinto-me insultado pelo corrente governo. Necessidade de mudar é uma coisa, destruir e aniquilar é outra, e sob a capa da primeira um governo com rédea livre provocou o maior retrocesso de sempre na minha classe profissional. Podiam ter ido mais longe, regressando às leis do estado novo que obrigavam, por exemplo, uma professora a ter de pedir licença ao ministério para se casar. Uma das razões que me mantém a trabalhar é um sentido de comunidade (a outra óbvia, as contas não se pagam por si só), que tenho a consciência de estar a ser explorado das piores formas pelo ministério. Há uma expressão eminentemente freudiana que define bem como me sinto em relação a isto. Mas não consigo dizer não a quem precisa.
Por isso estou contente com os resultados eleitorais, em particular porque o partido em que tradicionalmente voto continua a sua ascensão - nada mau, para um agregado de pequenos partidos e movimentos cívicos que está a reinventar a esquerda. O que me deixa descontente é a abstenção. Numa nação sempre lesta a queixar-se das políticas europeias, a necessitar de subsídios ou cada vez mais integrada na Europa, sessenta e tal por centos dos portugueses preferem fazer qualquer outra coisa do que ir às urnas no momento em que podem fazer alguma coisa de concreto, escolhendo os representantes portugueses no parlamento europeu. Porquê esta apatia, cada vez mais generalizada? O nosso voto importa.
Curiosidade: ao consultar os resultados eleitorais no Concelho de Mafra nota-se uma enorme abstenção nas maiores freguesias.