
Mark Mazower (2008). Hitler's Empire: Nazi Rule in Occupied Europe. Londres: Penguin
The Independent | Hitler's Empire
Durante os longos anos negros da II Guerra, grande parte da europa ocidental e oriental viu-se debaixo do jugo de um dos piores regimes políticos da história da humanidade. A vida, ou antes a sua impossibilidade, sob esse regime nos territórios ocupados é o assunto deste livro de grande fôlego, que cobre as decisões, as políticas, as acções e os impactos do regime nazi na Europa ocupada.
Mazower pinta um quadro detalhado. Analisando os principais teatros de guerra, distingue entre dois tipos de ocupação - um mais brando, contando com a colaboração das instituições dos países subjugados, na europa ociental, e uma forma selvagem de ocupação com políticas declaradas de extermínio na Europa de leste, levada a cabo não só pelo regime nazi mas também pelos seus aliados húngaros, romenos e búlgaros (estes últimos capazes de atrocidades que faziam empalidecer de horror os atrozes alemães).
A sua visão do regime nazi é desapiedada, mostrando-nos um quadro de cleptocracia dominante apoiada no autoritarismo de figuras do partido, normalmente incompetentes para a gestão governativa, geurrilhas absurdas entre facções ideológicas, lutas encarniçadas pelo poder e um desdém atroz pela vida daqueles que o regime não considerava como humanos. A inevitável derrota alemã é traçada desde o início da guerra: mesmo no momento de auge das vitórias militares, com um exército imparável, o regime não foi capaz de gerir a sua sustentabilidade face à rapacidade generalizada e incapacidade de reconhecer nos povos subjugados potenciais aliados de luta - erro cometido no leste, onde as acções repressivas acabaram por dar apoio ao regime bolchevique sovético, tão sangrento quando o nazi, mas não cometido a ocidente, onde por razões económicas havia uma confiança tácita nas instituições e as políticas de terror só foram instauradas no desespero do final da guerra.
Mazower também não é muito benévolo com as resistências. Ao contrário do mito de uma forte resistência europeia ao jugo nazi, o historidador mostra-nos um quadro de colaboração plena política e económica nos países ocupados, que se traduziu numa certa liberdade de acção. Perante a necessidade dos bens industriais e produtos alimentícios, os ocupantes optaram em muitos territórios por uma ocupação branda (excepto no casitigadíssimo leste europeu, palco das piores atrocidades da guerra) e as resistências só se fizeram sentir nos momentos finais da guerra, adquirindo importância como mitologia de salvar a face frente à vergonha da colaboração (França é aqui o caso paradigmático). De facto, no auge do poder nazi, muitos políticos em países ocupados regojizavam-se com a nova ordem nacional-socialista, capaz de trazer ordem às desgastadas democracias ocidentais.
De 1939 a 1945, a Europa sofreu uma devastação impensável quer às mãos de um regime bárbaro e assassino, quer às mãos dos que procuravam vingança. Hitler's Empire traça brilhantemente a loucura, a incompetência, a cleptocracia e nepotismo do regime nazi e dos seus sequazes.