
Re-Animator
Herbert West: Reanimator é talvez um dos piores textos a sair da mente de H. P. Lovecraft. Imprisoned with the Pharaos e a sua poesia são bem piores, mas a história escrita a metro sobre um cientista que desenvolve um soro capaz de derrotar a morte com resultados macabros é também uma das mais divertidas obras do escritor norte-americano.
A adaptação ao cinema deste conto segue fielmente o espírito da obra. Mais do que uma adaptação fiel, é um desenrasque típico de filme de série B que, face a um orçamento insuficiente para recriar os cenários originais de Lovecraft, actualiza-os para a era contemporânea. West é agora um cientista expulso de uma universidade alemã que vem continuar os seus estudos na mítica universidade de Miskatonic (um deveras curioso local de aprendizagem académica). Apostado em testar o poder do seu soro - um mirabolante líquido amarelo fluorescente, verdadeira imagem de marca do filme, West depressa entra em rota de colisão com o Dr. Hill, um dos professores mais ambiciosos da academia. Complicando um pouco mais a coisa, West aloja-se na casa de um colega que vive uma relação amorosa com a filha do reitor da universidade, relação mal vista pelo pai e por Hill, desejoso de reclamar a jovem rapariga para si.
As aventuras de West complicam-se quando penetra na morgue da faculdade para testar o seu soro em cadáveres. Acidentalmente, o reitor da universidade morre e West aproveita a oportunidade para mais um teste à sua descoberta. West, sublimemente representado por Jeffrey Combs, passa o filme com uma singular expressão determinada enquanto mostra as suas seringas com um ar ameaçador. As consequências depressa se fazem sentir: Hill descobre o segredo de West, acabando decapitado... e reanimado, o que nos dá o longo e perfeitamente insano final do filme, com um super-vilão que se passeia de cabeça debaixo do braço, controla outros reanimados, quase chega a vias de facto com a rapariga objecto do seu desejo (não digo como, fiquemo-nos apenas pela ideia que uma cabeça livre de pescoços tem uma certa flexibilidade) e desencadeia um holocausto de mortos-vivos apenas travado por West e as suas seringas cheias de soro reanimador.
Re-Animator é um daqueles filmes brilhantes de baixo orçamento que consegue conquistar quem o vê. Sem se levar muito a sério, o filme presta uma homenagem humorada, sem roçar o patético, que é de facto fiel ao espírito grand-guignol do conto original de Lovecraft.