segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Frankenstein Meets The Wolf Man



IMDB | Frankenstein Meets the Wolf Man (1942)
A History of Horror | Frankenstein Meets the Wolf Man
Wikipedia | Frankenstein Meets the Wolf Man

Começa da forma mais clássica presente nos cânones do cinema de terror: dois homens de ar sinistro arrombam um túmulo num cemitério iluminado pela parca luz da lua. Os homens procuram ouro, e não é o respeito pelos falecidos que os vai deter. Lá fora, o vento abana os contornos negros das àrvores contra o disco da lua, e dentro do sepulcro os dois homens afadigam-se em abrir o túmulo de John Talbot. Dizem os rumores que este foi enterrado com valiosas joias, e a cupidez dos ladrões de sepulturas não se detém perante a visão do corpo incorrupto de Talbot coberto de folhas de acónito (o mítico wolfsbane deste género de filmes). De repente, das profundezas da tumba surge uma mão, que agarra a mão de um dos ladrões, que grita, mergulhado na loucura, enquanto o seu comparsa foge, sai a correr do túmulo e corre esbaforido por entre as cruzes das sepulturas.

Se bem se recordam, o final de Frankenstein deixou o monstro encurralado num moinho consumido pelas chamas. E se bem se recordam, o final de The Wolfman deixou o lobisomem morto debaixo das pancadas violentas da bengala de prata empunhada pelo próprio pai, ignorante do facto de o animal monstruoso em que batia era o seu próprio filho transformando na criatura. No entanto, não há limites para a imaginação, especialmente nestas coisas mais sobrenaturais. Após o sucesso de The Wolfman e com a série de filmes sobre Frankenstein a estagnar, os responsáveis dos estudios Universal tiveram esta brilhante ideia: criar um filme onde os dois monstros icónicos se degladiassem.

Surgiu assim este fabuloso Frankenstein Meets The Wolf Man, o tipo de filme que embora não traga nada de novo, nem surpreenda pelo seu argumento intrigante ou caracterização surpreendente, não deixa de ser apaixonante. Neste Frankenstein Meets The Wolf Man, todos os clichés são repetidos, todos os lugares-comuns revisitados, todos os ingredientes do horror são utilizados. Encontramos tudo, desde maldições, monstros, cientistas loucos, aldeões supersticiosos, ciganos conhecedores dos velhos saberes, mistérios detectivescos, mortos que regressam à vida, esconderijos secretos, cemitérios tenebrosos, castelos arruinados. Nas cenas finais, o filme até tem aparelhómetros científicos de propósito tenebroso a fazer ruído e a piscar luzes espiraladas (mas não tem os inimitáveis geradores Van de Graaf, o que nitidamente é uma falha).

O argumento do filme resume-se em poucos parágrafos: após acordar num hospital de Cardiff, depois do tenebroso início do filme, John Talbot apercebe-se que a maldição do lobisomem não o deixa morrer. Desesperado, Talbot parte em busca de Maleva, a velha cigana que conhece a maldição. Esta acolhe-o, e partem juntos em busca do Dr. Frankenstein, cujas controversas experiências médicas convencem Maleva de que este encontrará uma cura para a maldição que cai sobre Talbot. Entretanto, o Dr. Mannering, o médico que tratou de Talbot no hospital, persegue-o, convencido de que é capaz de encontrar uma cura para um mal que julga ser apenas psicológico.

Talbot e Maleva chegam a Vasaria, a terra onde Frankenstein tem o seu castelo, apenas para esbarrarem em mais um obstáculo: o Dr. Frankenstein já havia falecido, e o castelo onde ficava o seu laboratório tinha ardido. Na noite de lua cheia, Talbot transforma-se em lobo, e perseguido por uma multidão de aldeões enraivecidos, abriga-se nas ruínas do castelo de Frankenstein. Aí acorda na manhã seguinte, novamente regressado à condição humana, rodeado de gelo. Ao explorar as caves congeladas, Talbot descobre um homem de aspecto monstruoso enclausurado no gelo. É o monstro de Frankenstein, que Talbot liberta.

Em busca dos segredos do Dr. Frankenstein, Talbot contacta a filha de Frankenstein, para obter o diário do cientista. Esta recusa, querendo que o legado do pai seja esquecido. O Dr. Mannering consegue chegar a Talbot, após o ter perseguido por toda a europa, e tenta convencer Talbot a submeter-se aos seus cuidados. Mas Talbot apenas pretende morrer, convencido de que assim se livrava de vez da maldição que pesava sobre si. Entretanto, decorre na cidade o festival tradicional de verão, para os quais os nossos personagens são óbviamente convidados pelo presidente da câmara local, mas este festival tem um fim prematuro quando o monstro de Frankenstein invade a cidade. Talbot controla o monstro e refugia-se no castelo, enquanto o Dr. Mannering acalma a fúria dos nativos convencendo-os de que pode conseguir resolver o problema do monstro, e curar Talbot.

Mannering e a filha do Dr. Frankenstein regressam ao castelo arruinado, onde esta revela o esconderijo onde se situa o antigo laboratório de Frankenstein. Mannering estuda os apontamentos de Frankenstein e repara as maquinarias do cientista louco, concluíndo que consegue desfazer o mal e aniquilar a criatura. Mas no momento crucial, o espírito científico sobrepõe-se ao bom senso, e Mannering não é capaz de reverter o processo. O monstro de Frankenstein, enlouquecido, e Talbot transformado em lobisomem degladiam-se por entre as máquinas do laboratório, enquanto o castelo se desfaz perante a força das àguas saídas de uma barragem rebentada.

A premissa que dá origem ao filme, o confronto entre os dois monstros, só acontece mesmo nos minutos finais do filme, mas este não se arrasta, mercê do interessante argumento de Curt Siodmak, escritor de ficção científica da Golden Age e também argumentista de The Wolf Man. A repetição dos ingredientes do cânone de terror é feita sem pretensões - o filme pretende apenas contar uma história e entreter. Como curiosidade, temos a interpretação do monstro de Frankenstein por Bela Lugosi. Este deveria ter sido o monstro original, mas acabou por desistir do filme. Anos depois, Lugosi encarna a personagem do monstro, e lega-nos outro dos ícones do monstro - se Karloff é o rosto do monstro, é o andar de Lugosi, hirto, com os braços sempre esticados e a esbracejar lentamente, que acaba por fixar a iconografia do monstro. Isto acontece porque o monstro, de acordo com o argumento, era míope, mas esse detalhe acaba por não ser referido no filme (tal como outro detalhe, o das caves/criptas geladas debaixo das ruínas do castelo de Frankenstein).

Frankenstein Meets The Wolf Man, embora não seja um filme fulcral, é um dos filmes fundamentais da história do cinema de terror, que vale bem a pena conhecer. Divertido e interessante, este é um excelente filme, ao qual a passagem dos anos não deixou datado, continuando ainda hoje a ser um filme que merece a pena ser visto e não ser esquecido.