quarta-feira, 28 de junho de 2006

John Law

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John Law, Detective : Um Homem Condenado, Gradiva, 2006
Gradiva | John Law
Wikipedia | Will Eisner

Will Eisner dispensa apresentações. Recentemente falecido, este lendário desenhador tem um merecido lugar nos panteões artísticos como um dos pais da Banda Desenhada adulta e visualmente intrigante. Tendo iniciado a sua carreira nos anos escuros da grande depressão, Eisner depressa se tornou um desenhador de sucesso, o que lhe permitiu ir experimentando com a linguagem da BD, criando The Spirit, um personagem inesquecível que faz a perfeita transição entre a banda-desenhada-comic infantil e a banda desenhada mais adulta, através de desenhos inesquecíveis que revelavam uma mestria perfeita do traço a preto e branco e um conhecimento arrojado da linguagem dos planos visuais. Diz-se, acertadamente, que Eisner trouxe a linguagem visual do cinema para a banda desenhada. Após anos de trabalho àrduo frente ao estirador, Eisner passou a criar novelas gráficas, obras que transcendem os limites da banda desenhada e que conjugam texto e imagem de uma forma inovadora. Estes apontamentos em forma de romance gráfico, de obra que mescla a obra literária com a obra visual, são intensamente nostálgicos e reminiscentes de outros tempos, um pouco como em certas obras de Paul Auster.

Nem todas as criações de Eisner foram bem sucedidas. Se The Spirit foi, e ainda hoje é, uma referência na história da BD, outras criações suas mal viram a luz do dia. É o caso deste John Law, um duro detective que combate o crime no submundo de uma cidade obscura. John Law não impressionou leitores nem editores, e as suas histórias foram recicladas como histórias do Spirit.

É por isso surpreendente este revivalismo das personagens às mãos de Greg Chaloner. As três primeiras histórias deste livro são um perfeitamete revivalistas - repescam os velhos temas e os formatos das histórias de banda desenhada dos anos 40. Mas o peso de reviver um personagem criado há cinquenta anos por um dos mestres da BD nota-se; esta primeira parte do livro não encanta, apesar do apoio e do entusiasmo do próprio Eisner. A obra foi premiada com o prémio Ledger.

A grande mais valia desta obra é a publicação das três histórias originais de John Law, criadas e ilustradas pelo grande mestre na melhor da sua forma. Nestas três histórias deslumbramo-nos com o estilo limpo mas profundamente noir que tornou Eisner famoso. Outra surpresa é a editora portuguesa deste John Law: habitualmente, apenas a Devir edita banda desenhada em formato comic. Mas ao ver a capa do livro, fui surpreendido pela chancela da Gradiva, normalmente mais associada à divulgação científica do que a campos editoriais mais arriscados. Será um prenúncio de novidades?