Coraline e a Porta Secreta, Neil Gaiman, Editorial Presença (Colecção Estrela do Mar), Lisboa, 2003
Entrevista de Neil Gaiman no Público
Página Oficial de Neil Gaiman
Coraline (não confundam, pois ela detesta que lhe chamem Caroline) é uma jovem rapariga que vive numa grande casa com os seus sempre muito ocupados pais e alguns vizinhos um pouco estranhos. Coraline é uma exploradora nata, curiosa e inquisitiva, o que a ajuda a passar o tempo livre. Coraline deseja passar esses tempos com os seus pais, mas estes estão sempre ocupados, sempre frente ao computador a trabalhar. Assim, Coraline vai visitando Miss Spink e Miss Forcible, duas velhas solteironas que passam os dias a beber chá e a recordar os seus tempos de actrizes, e vai evitando o Sr. Bobo, um velhote estranho que lhe confidencia que está a treinar ratos para um espectáculo de circo. Coraline vive numa mansão que foi dividida em apartamentos, e um dia, ao contar o número de portas do seu apartamento (ideia do seu pai, que não a queria à sua volta enquanto trabalhava no escritório), descobre que este tem treze que abrem, e uma décima quarta que não abre. Ou melhor, abre, mas dá em cheio para um muro. Coisa estranha, pensa Coraline, que começa a imaginar o que estará para lá do muro.
Um dia, Coraline abre a porta, e em vez do muro vê um grande espelho. Entra, e à volta do espelho vê uma casa que se parece mesmo com a sua casa. É a sua casa, embora diferente. Coraline vai entrando, até chegar à cozinha, onde encontra a sua mãe. Não +e bem a sua mãe, embora se pareça extraordináriamente com ela. À excepção dos botões que tem no lugar dos olhos, claro. Regressada à sua casa original, Coraline descobre que os seus pais desapareceram. A resposta ao mistério deste desaparecimento só pode estar para lá da porta fechada. Coraline enche-se de coragem, e atravessa a porta escura, penetrando num mundo tenebroso, um espelho distorcido do seu próprio mundo.
Tendo iniciado a carreira nos comics, onde foi responsável por alguns dos mais interessantemente escritos comics - caso de The Sandman, Neil Gaiman ultimamente tem-se dedicado à escrita, contando já com uma considerável obra que o coloca como uma das vozes mais interessantes da literatura fantástica. Da sua obra, podemos encontrar editados em português livros como Stardust, Neverwhere, Bons Augúrios (escrito em colaboração com Terry Pratchett) e este Coraline. O sucesso de Gaiman perante a crítica e os leitores talvez augure a publicação dos seus últimos romances, American Gods e Anansi Boys.
Fundamentalmente, a obra de Gaiman parece sempre girar à volta do mesmo tema: um jovem, ou uma jovem, não muito própriamente adaptado ao mundo real que o rodeia, encontra portas para um outro mundo paralelo, ao mesmo tempo maravilhoso e assustador, onde vive estranhas aventuras enquanto tenta regressar a uma realidade à qual nunca verdadeiramente pertenceu. Gaiman é exímio a retratar mundos de sonho, e a imaginar fantásticas realidades paralelas. A prosa de Gaiman talvez não seja do calibre da grande literatura erudita, mas confessem lá: ultimamente, quantos livros de literatura erudita vos fizeram sonhar?
