sábado, 19 de novembro de 2005
Portátil a 100 euros
Wired | Negroponte: Laptop for Every Kid
Wired | Computers That Kids Can Own
Foi desvendado na recente conferência da ONU sobre a internet na Tunísia o protótipo do projecto em que Nicholas Negroponte, guru do mundo informático e todo-poderoso director do mítico MIT Media Lab, já trabalha há varios anos. Negroponte tem lutado muito pela expansão das tecnologias digitais através de programas que levam computadores e internet às zonas mais pobres do mundo. A máquina recentemente apresentada é o passo mais lógico nestes programas, e, se conseguir ir em frente, irá revolucionar o mundo.
Não, não estou a exagerar.
A máquina é ao mesmo tempo modesta e ambiciosa. Trata-se de um computador portátil baseado num modesto Athlon a 500 mhz com 1 Gb de memória Flash. Tem wifi incorporado, ecrã policromático e corre o sistema operativo linux. Está desenhado para ser operado nas zonas mais pobres do planeta, dependentes de sistemas falíveis de alimentação eléctrica. Incorpora um sistema de manivela que permite, com um minuto de manuseamento, carregar a bateria para quarenta minutos de utilização. Tem um atractivo design em cores garridas, destinado a evitar roubos - a máquina é identificável com um relance. E vai custar 100 dólares.
O que esta máquina tem de revolucionário é que vai permitir o acesso das crianças do terceiro mundo às tecnologias a que nós já nos habituámos, através de um preço acessível (apesar de para certos países ainda ser muito caro). Ainda por cima, a máquina terá uma pré-instalação de ferramentas de programação em linux. Imaginem o que é que uma geração de putos do terceiro mundo poderá fazer asism que dominar esta ferramenta.
Outro aspecto revolucionário é o preço: portáteis a 100 dólares parecem uma miragem. Mesmo os pda's por esse preço só muito recentemente foram introduzidos no mercado, e com especificações muito inferiores a este portátil - comparem o gigabyte de memória flash deste protótipo com os míseros 32 megabytes do novo Palm Z22, neste momento o pda mais barato do mercado.
A One Laptop Per Child, a organização chefiada por Negroponte que lançou este programa, está de parabéns. A ONU agradeçe, os países do terceiro mundo também. Esta ideia fará mais para combater a pobreza em todo o mundo do que os milhares de consultores da ONU que diáriamente calcorreiam as estradas esburacadas dos paises do terceiro mundo nos seus jipes climatizados. Esperemos apenas que não morra à nascença - certamente que os grandes nomes da indústria informática não verão com muito bons olhos esta máquina, que contraria tudo aquilo que constroem para vender. Imaginem uma máquina destas à venda em Portugal, por um preço superior a 100 euros, mas que nunca se aproximaria do preço de um portátil ou até de um desktop. O diferencial de preço poderia subsidiar a compra destas máquinas em países pobres, e certamente que se venderia bem - uma máquina potente e resiliente por menos de 200 euros. Um óbvio rombo para os fabricantes de computadores tradicionais. Para bem de todos, este é um projecto que não deve desaparecer.