"Mas é o povo cuja conduta me indigna: como podeis ficar aí sem dar palavra nem dirigir censuras a este punhado de pretendentes, sem pôr termo aos seus excessos; e todavia sois o número!"
Assim falou Telémaco à assembleia dos Itacenses, após um pedido que fez à assembleia dos cidadãos de Ítaca que o deixassem aptrechar um barco para partir em busca de novas do seu pai, Ulisses, rei de Ítaca, ainda não regressado da conquista de Tróia. A sua casa encontra-se invadida por bandos de príncipes e nobres de várias regiões da grécia. Estes, dando Ulisses como morto, esperam que Penélope, a sua mulher, escolha um deles para seu esposo. Penélope mantém-se fiel a Ulisses, apesar da incerteza sobre o destino do marido, e encontra mil e um estratagemas para adiar a decisão. Enquanto isso, os nobres pretendentes instalaram-se na casa de Ulisses, bebendo o seu vinho, comendo os seus cereiais e os seus bezerros, e delapidando a sua riqueza, como o beneplácito e complacência do povo de Ítaca, que ordena a Telémaco que nada faça contra estes pretendentes e o proíbe de partir em busca de notícias de seu pai.
Sábias palavras, escritas há 2500 anos na Odisseia atribuída ao lendário Homero. Sábias palavras, que tão bem descrevem este nosso país, em que o número (o povo e a classe média) não se consegue opôr aos excessos dos pretendentes - os grandes empresários e os políticos incrustados no estado, que nos devoram hipocritamente os nossos bens enquanto exigem de nós sacrifícios em nome de uma economia que só os beneficia.