IMDB | Terminator
Artchive | Brueghel
Art Renewal | Brueghel
A carreira cinematográfica de Arnold Schwarznegger não se tem exactamente distinguido pela profundidade e intelectualidade dos seus filmes. A maioria destes envolve um brutamontes musculado carregado de armas pesadas que persegue inexorávelmente as suas presas enquanto espalha à sua volta um rasto de destruição de proporções épicas.
No principio dos anos 80, um novo filme de Schwarznegger galvanizou os adolescentes de todo o mundo (por todo o mundo, com uma concepção algo medievalista da coisa, devemos essencialmente entender a europa e a américa do norte, pois por óbvias razões económicas, o resto não conta - é paisagem para ser fotografada para a National Geographic). Estou a falar, claro, de O Exterminador Implacável.
O Exterminador Implacável é um filme que reúne alguns elementos de ficção científica - viagens no tempo, futuros apocalípticos e distópicos, e... robots. O filme em si pouco (nada) tem de filme de ficção científica - é mais um daqueles filmes em que o musculado herói (neste caso, anti-herói que acaba por se redimir) aniquila tudo à sua volta na caça à sua presa - a futura mãe de um homem que, quando nascer, se tornará o líder da resisteência humana num futuro em que os robots dominam o planeta.
O toque de viagem no tempo do filme funciona em círculo fechado, em que as consequências dão origem às causas. O envio do robot assassino para aniquilar a futura mãe leva a resistência humana a fazer viajar no tempo um homem para a proteger, homem esse que se tornará o pai da criança que no futuro será o líder da resistência humana que obriga os robots assassinos do futuro a enviar um robot exterminador ao presente para aniquilar a futura mãe... e daí por diante.
Os robots, em si, são criações fabulosas, embora perfeitamente inverosímeis. No filme, Schwarznegger encarna o papel de um androide assassino, que vai revelando a sua mecânica à medida que os combates rasgam a sua pele. Trata-se de um papel de representação difícil, em que Schwarznegger se passeia no filme com uma expressão vazia e um andar mecânico. Nos laivos sobre o futuro apocalíptico são-nos mostrados vislumbres das máquinas que travam a guerra infernal para aniquilar o homem: sob uma paisagem de pesadelo, esqueletos metálicos de ar demoníaco aniquilam tudo à sua passagem. As máquinas evocam aquelas pinturas da idade média, as ars moriendi e os triunfos da morte, em que esqueletos mirrados de ar demoníaco aniquilam ao mundo medieval - vejam O Triunfo Da Morte de Brueghel e, se ainda se lembram do filme e das suas iterações (mais dois filmes do mesmo género) certamente que irão reparar nas similitudes entre o apocalipse medieval e o apocalipse atómico pós-moderno - troquemos apenas os burros e as espadas por metralhadoras e servo-motores, mas o espírito é o mesmo.
No segundo filme, o conceito de robot é levado ainda mais longe com uma forma protoplásmica de metal líquido capaz de assumir as mais variadas formas. O terceiro filme já não tive paciência para me dar ao trabalho de o ver, mas conta-se que teria um robot ainda mais sofisticado no papel principal.
Os robots de O Exterminador Implacável são criações fabulosas, mas, como já referi, inverosímeis - os especialistas em robótica há já algum tempo que se aperceberam que a forma humanoide, bípede, desengonçada e de equilíbrio precário é a menos indicada para um robot. Estas máquinas são mais eficientes como objectos animados (os braços mecânicos das fábricas ou aqueles fantásticos aspiradores ovoides que eu tenho que comprar cá para casa) do que como réplicas do ser humano.
Mas isso não torna a cena em que um pé de metal esquelético esmaga um crânio humano menos divertida de se ver.
