quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Desenho



Novo desenho. Finalmente. Parecia-me que durante as férias não teria tempo de acabar este desenho, o que seria um contra-senso. É nas férias que se tem tempo, mas... aí reside o problema. Durante o ano de trabalho adia-se todo o ócio para as férias, para o tempo em que se tem tempo. O resultado de tantos adiamentos, de livros com leitura adiada, de passeios na praia adiados, e, confesso, de arrumações a ateliers que se assemelham a zonas de guerra é uma sobrecarga de tempo. Na verdade, nas férias não há tempo para nada. Uma tonelada de livros para ler, duas toneladas de artigos para ler, um blog a manter, desenhos para fazer (já nem me atrevo a pensar em pinturas), experiências culinárias para arriscar, horas para passar com os amigos, saltos à praias... que stress! São mais cansativas as férias do que os dias de trabalho. Mas ao menos aquela pilha interminável de livros e revistas que invadiu a minha mesa de cabeceira está a diminuir a olhos vistos. Isto o que é preciso é ritmo. Duas horinhas logo de manhã, das oito às dez, para pôr leituras em dia, dez ao meio-dia para a net, o blog e alguns retoques no photoshop, meio dia às três para almoços e rotinas, praia até ao fim da tarde (e o que seria da praia sem um bom livro e o caderno de desenhos). Noite, para os amigos e umas leiturazinhas antes de adormecer. Assim as férias rendem.

Novo desenho. Embora sejam fruto do acaso, ao chegar ao fim surpreendo-me sempre como qualquer destes desenhos conseguiu encontrar a sua lógica interna. Nunca parto com uma ideia definida, ou sequer com uma ideia. O rabisco dá o mote, e continua-se, até que de linhas isoladas nascem estas formas irreais.

Irreais, e com muito gosto. Nunca me senti atraído pelos realismos. Quando admiro alguma obra realista, admiro-a pela sua técnica, não pelo conteúdo. É como olhar para um edifício prestando apenas atenção às equações matemáticas que definem a estrutura. A realidade, mesmo nestes dias solarengos, é entediante e rotineira. As paisagens interiores reveladas pelos voos da imaginação são muito mais interessantes.