sexta-feira, 5 de agosto de 2005
Anda aí o fogo
Diário Digital | Incêndios: 24 fogos por controlar em 11 distritos às 17:52
RC Mafra | Bombeiros travam fogo na mata grande
RC Mafra | Chamas lavram na serra de Monfirre
Um pormenor curioso sobre a irrealidade da vida nos casinos atingiu-me ontem. Dentro do casino, figuras obcecadas curvavam-se sobre as mesas de jogo e as slot-machines. Fora do casino, todo o Estoril estava coberto por um manto sufocante de cinzas. Um incêndio em Mafra, ali para os lados da Igreja Nova (a zona mais acidentada do concelho), ardia em força. As nuvens de cinza cobriram toda a Lisboa. A viagem de regresso à Ericeira foi feita sob uma cobertura incessante de fumo e cinzas. Ar irrespirável, nauseabundo cheiro a madeira queimada omnipresente. A noite foi infernal - uma golfada de ar, na esperança de ser puro, trazia apenas mais fumo. Hoje de madrugada, na fotografia, o sol parece estar a nascer sob um manto de nevoeiro. Na verdade, é um manto de fumo o que obscurece o sol.
Quando vivia em lisboa, os incêndios eram aquelas tragédias trazidas até casa pela cobertura jornalística das televisões. Mas as chamas não se cruzavam com as andanças do bairro alto ou da avenida de roma. Vivendo fora de lisboa, os incêndios são uma realidade palpável, de chamas dantescas, fumo opressor, calor e paisagens devastadas. E uma sensação inquietante de medo. Porque o fogo pode chegar aqui à Ericeira. Ainda há por aí muito mato, perfeito combustível nesta estação de calor, falta de àgua e matagais ressequidos.
É com tristeza que vejo este vendaval anual de tempestades de fogo, bombeiros estafados e impotência generalizada.
Aos bombeiros devemos os maiores agradecimentos e o maior respeito, pois são eles que estão na linha da frente, combatendo os turbilhões de chamas que devoram, quilómetro a quilómetro, o nosso país, as nossas àrvores, as nossas casas e o nosso ganha-pão.
Oito da noite, as televisões acendem-se com o vermelho das chamas. Por todo o lado, histórias de aldeias cercadas por chamas. Um blitz tórrido cobre o país. Cidades cobertas por nuvens de fumo dos incêndios das matas do interior. Como cenas de uma guerra.