quarta-feira, 13 de julho de 2005

Post Scripts

Acabei agorinha mesmo de elaborar o meu relatório de desempenho como director de turma. Passei umas torturantes horas a tentar escrever a coisa - nesta altura do ano, aquilo que menos apetece é escrever relatórios que ninguém lê. Mas, na eventualidade de ser lido, elaborei um relatório à maneira, daqueles que abundam no sistema educativo. Apenas a modéstia me impediu de cair em grandiloquentes discursos do tipo eu quiz, eu sei, eu fiz, sou mesmo o maior. O que não impede o relatório de ter sido elaborado em eduquês, aquelas língua franca dos professores, propositadamente incompreensível e rebuscada, a disfarçar o vácuo das palavras. Não é que não tenha dado o meu melhor, mas há um certo odor a ridículo a perfumar estes relatórios. Olhamos para o nosso umbigo e dizemos, do alto da grandeza da nossa umbicidade, que somos bons. Eu não sou o meu melhor juiz. A indicação que fiz um bom trabalho está na maneira como alguns encarregados de educação me agradeceram (não são aqueles que me cumularam de louros, desses desconfio), da boa relação que tive com os alunos (que remédio, ou eram boas relações, ou então, meus meninos, a vossa vida vai ser infernal) e das palavras de apoio dos meus colegas de trabalho.

Postos isto, deliciem-se com estas pérolas de eduquês:
evidenciaram problemáticas de atenção/concentração, lacunas de metodologias de trabalho e estudo, comportamentos disruptivos, e, em alguns casos, deficiente acompanhamento familiar - tradução: o puto não estuda, está-se na tintas, porta-se mesmo muito mal e os papás estão-se completamente nas tintas para ele. A escola que o eduque.

Foram realizados esforços no sentido de integrar os alunos em grupo, tentando ultrapassar a falta de coesão da turma, e tentando incutir nos alunos o respeito pelas regras básicas de comportamento - tradução: portavam-se mal como o caraças, e o que era preciso era dar-lhes um bom par de estalos.

reuniões ordinárias de conselho de turma, procurando que estas fossem organizadas e estruturadas para que o trabalho necessário fosse realizado de forma eficiente - tradução: ou as coisas já iam feitas ou então seria uma reunião muito looonga.

contactos mais regulares com os encarregados de educação dos alunos que apresentavam comportamentos disruptivos - tradução: os putos chateiam-me, eu chateio os papás. Lógico.

contacto regular com os encarregados de educação é fulcral para o bom funcionamento do trabalho de direcção de turma - tradução: os filhos são vossos, não meus. Aturem-nos.

Imaginem agora que eu escrevia preto no branco no relatório. Era depenado. Mergulhado em azeite a ferver. Serviria de alvo para tiro com facas rombas. Soltavam os cães de ataque à minha passagem.

Para descomprimir:
Heavy Metal. Não é para olhos inocentes (cliquem, seus pervertidos, cliquem).
Simon Bisley Online. Não é mesmo para olhos inocentes e espíritos puros. Cliquem à vontade, que aqui na net ninguém vos vê (pensam voçês, está neste momento um hacker na roménia ou na bukovinia de cima a tentar avariar o vosso querido computador).
Infinity Plus. Não há que enganar, quatro novas histórias de ficção científica de Bruce Holland Rogers para ler. Quatro de uma vez. Ele há horas de sorte.