sexta-feira, 22 de julho de 2005

Adrian Tomine, II

Ontem ocorreu-me a frase perfeita para caracterizar o trabalho de tomine. Estava numa festa, naquela altura morta em que o alcool ainda não atingiu os centros cerebrais e as pessoas olham umas para as outras sem saberem o que dizer, mesmo já se conhecendo à anos. Velhos amigos sorriem, olham uns para os outros com um olhar ausente, tentam iniciar conversa, mas não pega. Frases são iniciadas, mas ficam no ar, recebidas com acenos de cabeça pelos restantes convivas. São os primeiros minutos de uma festa, minutos que sabem a horas. São os tempos mortos que revelam bem os vazios das relações humanas, os vácuos onde o cérebro amolece e se torna incapaz de se manter sociável.

(Por isso é o futebol e os carros no caso masculino, e as gorduras e as dietas no caso feminino, são temas de conversa tão explorados. Permitem dizer sem dizer nada, falar sem transmitir conteúdos, espremer o fruto sem sumo.)

Eu, tendo as capacidades sociais de uma amiba (e isto num dia bom), sou particularmente sensível a estes momentos de vazio.

Tomine explora magistralmente estes vazios. O seu olhar disseca o vácuo das relações humanas, o espaço negativo entre conversas definido por olhares e trejeitos de expressão.