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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Mujeres y diosas en el Mediterráneo antiguo


Paola Bernardini (2022). Mujeres y diosas en el Mediterráneo antiguo. Santa Cruz de Tenerife: Melusina.

Um périplo pelo mundo marítimo grego, focado na intersecção entre a mulher e o mar Mediterrâneo. O grande foco está nos mitos, e a autora percorre as teogonias, os mitos fundacionais, as poesias épicas e satíricas, ou as lendas locais que nos chegaram dos registos literários da antiga Grécia. Mostra-nos a profunda ligação entre périplos marítimos e a imagem da mulher, enquanto deusa, criatura mítica ou humana com conexões divinas. O mundo grego era um mundo ligado ao mar, às ondas e correntes do Mediterrâneo, e os seus mitos e histórias mostram isso.

Com um destaque menor, dado que as fontes históricas são escassas, a autora também olha para as mulheres reais e a sua relação com o mar. Sabemos que o mundo grego não era muito clemente para as mulheres, as liberdades e democracia eram ideais masculinos. Mas entre prostitutas e escravas, sacerdotisas e comerciantes, ou como reféns das constantes guerras entre povos e pólis, o mundo feminino também se cruzava com o marítimo.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

O Burro de Ouro


Apuleio (1978). O Burro de Ouro. Lisboa: Editorial Estampa.

É preciso ter cuidado com as jovens bruxas da Tessália. Podem ser fogosas debaixo dos lençóis, mas se quisermos experimentar os seus encantamentos, rendidos como estamos aos seus encantos, algo pode correr mal. Como se comprova pela história deste Lúcio, viajante grego que se vai metendo nalguns sarilhos libinosos nas suas viagens, e no seu desejo de novas experiências, pede a uma aprendiz de feiticeira que o transforme num pássaro, tal com a sua ama consegue fazer. A jovem feiticeira não é tão destra nas artes mágicas quanto a sua ama, e o pobre Lúcio descobre-se feito num burro. 

Não é o pior dos destinos, basta que o homem transformado em animal coma uma rosa para regressar à condição humana. O problema, é que tudo lhe corre mal. É roubado por ladrões, usado como jumento de carga, trocado entre amos, alguns brutamontes, outros mais agradáveis. Acaba, até, no leito de uma matrona especialmente lúbrica (esta parte do romance seria impublicável, hoje...). Depois de muitas desventuras, será graças à intervenção da deusa Ísis que regressará à condição humana. A partir daí, as suas viagens de descoberta irão assumir um caráter mais espiritual, com a sua iniciação nos mistérios da deusa, e, posteriormente, nos de Osíris. 

Romance de impenitente impertinência, entre o obsceno e o libertino, é também uma história que contém histórias. Quer como Lúcio, quer como burro, o personagem cujas desventuras seguimos cruza-se com outros viandantes, que contam histórias. Há pequenos romances e tragédias dentro deste grande romance clássico, que estão entre o moralista e o humorista, lidando quase sempre com traições conjugais, e inclui ainda um detalhado contar do mito de Cupido e Psiché. Apesar de o ter lido numa tradução algo maçuda do século XIX, é fácil de perceber a sedução irreverente desta história sobre a busca constante de novos conhecimentos, experiências e limites, de ir mais longe mesmo que se vivam consequências funestas dessa vontade. E, confesso, não me é difícil imaginar um antigo romano a rir-se às gargalhadas de algumas das passagens mais escabrosas deste romance.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Figuras do Mito


Maria Mafalda Viana (2022). Figuras do Mito. Lisboa: Tinta da China.

É impossivel escapar à sedução da antiguidade clássica. Tanto da sua herança tornou-se parte de nós, mesmo que já não recordemos a origem de algumas das nossas estruturas culturais. Olhar para os mitos não é um desporto de elitismo académico, mas refletir como as histórias, ideias e modos de ser de um povo há muito desaparecido são parte do nosso tempo. 

O elemento mais cativante dos mitos gregos é o seu profundo humanismo. Mantemo-los na nossa memória através de textos que sobreviveram às vicissitudes do tempo, fragmentos de um todo maior que está parcialmente perdido. Mas o que sobrevive, é suficiente para nos dotar de ideias, apaixonar, perceber as ligações culturais que se enraizaram ao longo dos séculos na cultura europeia ocidental. É interessante notar que a mitolologia grega chegou-nos mais por poemas, teatro e histórias onde o homem confronta os seus deuses, do que por uma teologia distante que explora os atribuitos das divindades.

Este livro leva-nos a refletir isso, analisando três dos grandes personagens dos mitos gregos. Personagens não divinos, mas cujos destinos estão entrelaçados com as ações dos deuses, os seus destinos, e também a sua liberdade, que implica consequências. Olhamos para Ariadne, a trágica mulher do fio, que deu a Teseu o meio para sobreviver ao labirinto cretense, e foi recompensada com o abandono pelo homem que amou, e pelo qual traiu a sua pátria. Ariande é o sinal do berço das histórias gregas, que se fazem em amalgama das tradições das diferentes cidades, mas cujo ponto de partida é traçado à civilização minóica que se ergueu em Creta.

Ulisses é a segunda figura analisada nestes ensaios. A história do viajante que não desiste do regresso a casa, da sua fiel esposa, das vicissitudes que tem de enfrentar por estar sujeito aos caprichos e castigos dos deuses, a tenacidade de quem coloca o seu desejo acima das tentações momentâneas, o quasi-eterno périplo pelas terras misteriosas de um mediterrâneo de fábula, a sua imbativel argúcia. O livro termina com Édipo, a metáfora da fatalidade do destino, daquele que procura fugir ao futuro que lhe vaticinaram mas, ao fazê-lo, acaba por cumprir as profecias funestas. Uma história sobre inelutabilidade, a incapacidade de escapar aos nossos papeis. 

É uma curiosa escolha de figuras em analise: a mulher potenciadora mas vitimizada, o herói inabalável nas suas convicções, o anti-herói vítima de um destino que lhe foi imposto. Três historias clássicas, essencialmente focadas no humano. Os deuses estão lá, mas mais como pano de fundo. São nucleares aos mitos, mas o que o torna estas histórias tão ricas, e tão pertinentes milénios após as tradições onde foram forjadas desaparecerem, é o seu foco nos humanos, nos seus sentimentos, vontades, forças e tragédias.

O livro termina com um apontamento sobre ninfas e adamastores, um delicado voo erudito sobre outras figuras míticas que se relacionam com a nossa tradição portuguesa através do poema de Camões. Uma obra erudita, que cruza os mitos com os seus reflexos literários ao longo dos séculos, mostrando como a base da cultura europeia (é dela que falamos, sem tentações globalizadoras) está enraizada nas terras gregas.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

The Library of Greek Mythology

 


Apollodorus (2008). The Library of Greek Mythology. Oxford: Oxford University Press.

Um enorme resumo, que nos introduz aos mitos gregos, às histórias que estão por detrás das tragédias, das comédias e dos poemas épicos que nos chegaram aos dias de hoje. Ler esta Biblioteca é ler um catálogo seco de personagens míticas e das suas principais histórias. Falta a poesia, o langor de contos milenares, mas permite mergulhar no longo historial destes antigos mitos. Cujo fascínio de terem sido tão duradouros, de um imaginário criado por homens que viveram há milénios e que ainda hoje nos intriga, é uma sensação extraordinária.