terça-feira, 7 de outubro de 2025

The Gone World


Tom Sweterlitsch (2018). The Gone World. Nova Iorque: G.P. Putnam's Sons.

Uma leitura deveras surpreendente. Consegue cruzar com mestria a ficção científica e o policial procedimental, com toques de horror cósmico. A narrativa é um labirinto convoluto que, miraculosamente, faz sempre sentido até ao final. 

Seguimos uma investigadora da marinha americana que está à caça dos responsáveis pelo assassinado violento de um marinheiro e da sua família. Parece à partida um mero policial procedimental (e sim,  autor faz piadas com a série NCIS) até nos apercebermos dos detalhes e volteios da história. O livro passa-se no passado, no final dos anos 80, mas num passado onde enquanto a NASA lança foguetões para o espaço, a marinha americana dispõe de um projeto ultra-secreto capaz de sulcar as estrelas. Tendo acesso a uma tecnologia de motorização de bolhas de espaço-tempo, lançou para o espaço várias naves que atravessaram o espaço interestelar. E essa tecnologia tem uma outra utilidade: pode ser usada para viajar ao futuro.

É aqui que as coisas se começam a tornar convolutas, e intrigantes. Se viajar para o futuro é rotineiro para estes investigadores (embora o resto da sociedade e o próprio governo ignorem a existência desta tecnologia), na verdade não viajam exatamente para o seu futuro, mas sim para futuros possíveis. Futuros que, depois de serem visitados pelos viajantes, se vão extinguir como possibilidades quando estes regressam ao ponto de origem. Por vezes, há pessoas que vêm desses futuros, náufragos de um tempo que nunca virá a existir. Apesar disto, viaja-se muito para os futuros, entre a curiosidade científica e a necessidade de investigar - é uma técnica infalível, que aposto que qualquer detetive adoraria, a possibilidade de perante um crime, se poder viajar alguns anos para visitar um futuro, ler os relatórios do passado, e assim acelerar a investigação no presente.

Há ainda uma espada de dâmocles que se aproxima, inelutável. Os exploradores de futuros apercebem-se da existência de um ponto terminal, uma catástrofe que extinguirá a humanidade sob efeito de uma mal compreendida força de nano-partículas alienígena. É o toque de horror cósmico do livro, com paisagens de pessoas crucificadas, sobreviventes que correm até ao suicídio e devastação generalizada. Um ponto terminal que não é estático, e se aproxima no tempo. 

As mortes que a investigadora investiga estão relacionadas com todos estes mistérios, com uma conspiração psicopática de sobreviventes secretos de uma missão espacial que, inadvertidamente, despoletou os acontecimentos que dão origem ao ponto terminal. Todo o romance é uma história de saltos no tempo, entre futuros que se desvanecem, onde todos os detalhes se relacionam. Há variantes, vidas que se revisitam em diferentes tempos, e a compreensão de que o ponto terminal pode vir a ser evitado, se se seguir o caminho certo entre as possibilidades temporais. Se será evitado, é algo que nunca sabemos, porque o livro conclui de forma lógica - se uma ação extingue futuros prováveis, então o próprio ponto de vista do narrador extinguir-se-á com eles.

O livro é brilhante, entre o thriller policial mas com um imenso mergulho no melhor da ficção científica. O toque de horror cósmico integra-se perfeitamente nos temas, e a leitura é imparável, daquela que nos leva a perder horas de sono. Surpreende, especialmente na complexidade da forma como está concebido.