quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Conquerors' Pride; Conquerors' Heritage; Conquerors' Legacy


Timothy Zahn (1994).  Conquerors' Pride. Nova Iorque: Dell.

Uma intrigante space opera militar. Num cenário onde a humanidade se espalhou pelas estrelas (curiosamente, mantendo a independência de blocos de nações terrestres, que formam o cerne político de uma união multi-planetária) e usa a sua capacidade militar para controlar e manter em paz outras civilizações alienígenas, uma situaçao de primeiro contacto corre muito mal. Um encontro entre uma frota terrestre e um grupo de naves de uma civilização alienígena desconhecida transforma-se num massacre para os terrestres, quando os alienígenas abrem fogo sem justificação. Para além da surpresa, as potentes armas e naves terrestres mal parecem beliscar as forças desconhecidas. Desse massacre escapa o comandante de uma das naves, tomado como prisioneiro para ser estudado pelos alienígenas.

Partindo deste ponto, o romance segue por dois caminhos. Por um lado, o esforço da família rica e politicamente bem conectada, que decide montar uma missão de salvamento fora dos parâmetros oficiais. Aqui temos todo o tipo de peripécias, com eventuais conspirações por parte de civilizações alienígenas supostamente aliadas com a união humana mas que procuram manipular a superioridade militar humana para os seus próprios objetivos de conquista, e que poderão estar envolvidas no súbito e violento recontro com os alienígenas desconhecidos. 

Por outro, temos a experiência do humano prisioneiro, que depressa se apercebe das características dos seus carcereiros alienígenas, a começar pelo facto de, na narrativa oficial de uma sociedade estratificada com obediência total aos seus superiores, o recontro violento ser retratado como um ataque não provoado por parte dos humanos. O prisioneiro faz tudo o que pode para recolher informações e fugir, algo que consegue graças a um incrivel golpe de sorte.

Pelo meio, ficam os mistérios que dão estrutura a esta trilogia: fica no ar o perceber como é esta nova civilização, na sua tecnologia mas em especial na forma como comunicam, que parece desafiar as leis da física e poderá assentar em personalidades virtuais bio-implantadas; a ameaça de uma super-arma terrestre, cuja menção tem sido um dissuassor eficiente em décadas de paz armada no espaço de coexistência habitado pelas diferentes civilizações mas que acabará por se descobrir que não passa de uma lenda, e os temores de uma guerra generalizada contra inimigos desconhecidos. Um ponto de partida intrigante e empolgante para a trilogia.


Timothy Zahn (1995).  Conquerors' Heritage. Nova Iorque: Dell.

Neste segundo volume da trilogia, Zahn faz algo de inesperado, pouco habitual no género space opera: muda por completo a perspetiva da história. Todo o livro mostra a visão dos alienígenas, o que dá espaço para aprofundar o espaço ficcional destes livros. Não é muito habitual, nestas space opera militaristas, dedicar todo um livro da série ao outro lado do conflito. Neste Conqueror's Heritage, é o inimigo que conta a sua história.

Zahn explora muito bem esta visão de uma civilização alienígena. Mostra-a como uma união algo ritualista de clãs, com uma textura social e complexidade política profunda. Os personagens alienígenas não são elementos decorativos, e damos por nós a sentir empatia para com estes personagens (até porque, sendo uma space opera, é de esperar que não tenham percursos fáceis, cheios de peripécias, percalços e conspirações). A sociedade é defensiva, e tem um padrão - entrou sempre em conflito com outras civilizações interplanetárias com as quais se cruzou, a partir de primeiros contactos em que se consideraram atacados. Com os terrestres não será diferente, e evidenciam um horror tremendo face a ataques constantes quando se deparam com eles. 

Outra curiosa característica da civilização é uma espécie de imortalidade virtual biológica. A todos os alienígenas, na sua infância, é-lhes colhido um orgão externo, preservado em bem protegidos locais rituais. Quando o seu corpo físico morre, a consciência dos indivíduos é preservada pelo orgão, o que lhes permite uma existência virtual, manifestando-se como o que consideraríamos espíritos, mantendo-se úteis à sociedade como conselheiros e, primordialmante, como meios de comunicação capazes de interligar distâncias interplanetárias.

Sensivelmente a meio do romance, Zahn dá-nos a pista que justifica a sanha dos alienígenas em combater os terrestres, que consideram seres exterminadores. Quando um dos personagens do livro, um destes seres incórporeos, entra em contacto com dispostivos de rádiocomunicação, contorce-se de dor, e percebemos aí qual é a arma misteriosa que leva os alienígenas a sentirem-se atacados sempre que usada - emissões de rádio. Percebemos aí (e o personagem alienígena também), que as guerras quasi-genocidas que esta civilização trava partem todas de um equívoco. Dado que estes alienígenas são sensíveis a sinais de rádio, e com altas intensidades pode levar à morte dos seus orgãos de quasi-imortalidade virtual, não conseguem compreender que sempre que outros lhes enviam sinais de rádio, é para comunicar e não com intenções violentas.

O livro segue outras linhas narrativas, que tornam mais complexa a sociedade alienígena. A presença de gerações de consciências ancestrais, sempre presentes, a interferir e a exigir ocupação, induz fadiga social. Estes conflitos são aprofundados pela clivagem entre a necessidade de progresso das gerações dos vivos, que consideram inúteis alguns costumes antiquidados, e o conservadorismo dos ancestrais virtuais.

Resta ver como é que este nó será desatado. Duas civilizações em conflito por causa de um equívoco, sem grandes possibilidades de comunicar, e a interferência de outra civilização alienígena, particularmente matreira e astuta, que estando dentro da zona de influência terrestre, procura instrumentalizar a guerra a seu favor.


Timothy Zahn (1996).  Conquerors' Legacy. Nova Iorque: Dell.

Com tantas linhas narrativas pendentes dos dois volumes anteriores desta trilogia, este terceiro livro tem a tarefa difícil de levar tudo a bom porto. Zahn faz isso utilizando múltiplos pontos de vista, correspondentes aos diversos fios narrativos entretecidos na história, e um ritmo narrativo diabólico. Sabemos como a história irá acabar, mas o caminho para lá chegar é tortuoso e empolgante. Pelo meio, o autor faz um belíssimo fan service e regala-nos com uma batalha espacial, daquelas que só a mais divertida space opera nos dá.

O final é previsível. Sabemos que a humanidade e a espécie alienígena dos Zirrh se irá entender e alcançar uma paz equilibrada. É uma conclusão que já vem do segundo volume da trilogia. O problema, é o como chegar à paz. Os humanos têm de lidar com o seu medo de agressão. Os Zirrh de perceber que o consideraram ataque não passou de um mal entendido, uma vez que os humanos não sabiam o efeito de profundo desconforto e medo racial que as transmissões de rádio provocam nestes alienígenas. Entre batalhas, percebe-se um ponto de equilíbrio militar entre as  duas potências espaciais. Se a tecnologia Zirrh, baseada em cerâmicas e com a vantagem das comunicações quasi-instantâneas permitidas pelas suas consciências desincorporadas, se parece sobrepor à humana, é também vulnerável a explosivos e a uma nova arma química que liquefaz armaduras cerâmicas. Já o grande temor, quer dos Zirrh quer de todos os alienígenas dentro da esfera de influência humana, é uma super-arma que não existe.

Para além destes problemas, com duas civilizações envoltas numa luta que pensam ser pela sobrevivência pura, a situação complica-se por interferências externas e internas. Por um lado, temos uma espécie alienígena dentro da esfera de influência humana, extremamente traiçoeira e persuasiva, que manobra os alienígenas Zirrh para atacar os humanos, e outra civilização alienígena com a qual têm uma rivalidade milenar, apenas travada pelas forças militares humanas. Essa civilização, desarmada no passado, acabará por se revelar a melhor aliada dos humanos nos momentos cruciais. Já entre os alienígenas Zirrh, há uma luta intensa entre fações, com um líder de um clã a manobrar para obter o poder supremo, mobilizando a parte das forças Zirrh tripulada pelos do seu clã para tentar, com ajuda dos alienígenas traiçoeiros, um ataque à própria Terra. 

Zahn urde muito bem as suas linhas narrativas, entre aventura pura, cenários de space opera vasta e deslindar de complexas conspirações. Intuímos o destino do livro, mas somos levados em suspense quase até às últimas páginas. Neste aspeto, a leitura pode tornar-se irriante, quando percebemos que uma situação de crise está quase a resolver-se Zahn coloca outro obstáculo. Noutros livros, com outros autores, isto não passaria de arrastar desnecessário da narrativa, mas neste ponto final desta trilogia, funciona muito bem.