quinta-feira, 24 de julho de 2025

The Ministry of Time




Kaliane Bradley (2024). The Ministry of Time. Londres: Avid Reader Press.

As viagens no tempo são um tema muito explorado na ficção científica, e pano para narrativas convolutas, graças aos paradoxos advindos do emaranhar da linearidade do tempo. Neste surpreendente e excelente romance, Kaliane Bradley afirma logo à partida querer ignorar essas premissas elementares do género, construindo a sua narrativa afirmando que os paradoxos temporais não existem. Mas, no final, tira o tapete debaixo dos pés do leitor quando percebemos que toda a história não passa de um elo num ciclo de paradoxos temporais manipulados em busca de um resultado desejado.

O livro leva-nos a uma Londres de um futuro próximo onde a desagregação social, económica e ambiental advinda das alterações climáticas se começa a sentir. Não é um mundo em derrocada apocalíptica, mas há um sentimento de erosão progressiva. É neste clima que uma tradutora de origem cambojana consegue ser aceite no que lhe parece ser o emprego de sonho, com uma posição misteriosa num departamento governamental inglês.

A sua missão revelar-se-á chocante: terá de acompanhar expatriados que foram resgatados de terras que já não existem, pois foram subtraídos ao passado. O programa é experimental, testando uma máquina do tempo obtida pelos ingleses em circunstâncias pouco claras, tendo trazido para o século XXI pessoas vindas de outros séculos. Em comum têm o terem estado às portas da morte. Aliás, precisamente porque o registo histórico preserva a memória das suas mortes violentas é que são considerados seguros para resgatar sem risco de paradoxos temporais.

Boa parte do livro vive do contraste dos humores, reações e percepções de pessoas que vieram de outros tempos, com os seus modos culturais próprios, com as formas de estar da modernidade. E aqui, é impossível não fazer uma ligação pouco subtil com os nossos tempos atuais, onde as vagas de migrantes e deslocados, com as ondas de choque que provocam, são manipuladas para acicatar discursos de ódio. Dado o tempo presente e a própria história da autora, esta é uma metáfora não explícita, mas que se sente.

Enquanto nos entretemos com as idiossincrasias daqueles cuja forma de estar tem pouco a ver com a modernidade, embora se adaptem, há uma outra história que decorre em surdina até se tornar preeminente. Há uma guerra entre futuros que procuram controlar a máquina para controle de recursos, e iremos perceber que a jovem tradutora está no cerne de tudo isto. Sem querer fazer grandes spoilers, há um laço temporal fechado com o seu futuro eu, que anda a tentar manipular acontecimentos do passado até obter o futuro que pretende.

A leitura é escorrida e mesmo nos seus momentos mais prosaicos não se consegue largar o livro. Uma obra refrescante, vinda de uma nova voz da FC britânica com um sabor global.