quinta-feira, 22 de maio de 2025

Deuses, Túmulos e Sábios


C. W. Ceram (1977). Deuses, Túmulos e Sábios: O Romance da Arqueologia. Lisboa: Círculo de Leitores.

Tendo sido originalmente publicado nos anos 40, este livro está à partida datado. Mas não é por isso menos fascinante. Traz-nos algo que com o avanço da divulgação científica se perdeu, um sublinhar do espírito de aventura clássico que a arquelogia invoca. Não estou a reduzir o papel da visão cientifica contemporânea, que tanto e fascinante conhecimento nos tem trazido, mas este livro remete-nos para um outro tempo, onde as terras distantes o eram verdadeiramente, e a sua visita, bem como o desbravar dos segredos da antiguidade, soavam a epopeia.

Ceram leva-nos à Grécia de Evans em Creta e Schliemann em Tróia, mostrando como o amor da literatura da antiguidade clássica foi o mote para descobertas que iniciaram o processo de revelação profunda do mundo grego, sem esquecer esse marco que foi a descoberta das ruínas de Pompeia. Entre Champollion e Howard Carter, fala-nos dos primeiros passos que revelaram o esplendor, e desfizeram os mistérios, da civilização egípcia. Para a mesopotâmia, cujos desertos ocultavam vestígios de uma civilização praticamente esquecida, embora subsista em sistema matemáticos, astronómicos e nas lendas que formam a bíblia, somos levados entre Koldewey a Peters nas descobertas que revelaram a riqueza das culturas assíria e suméria. O livro termina com uma viagem às américas, detalhando o arrasar da cultura azteca às mãos dos conquistadores, mas também a descoberta dos seus ancestrais construtores de Teotihuacan, e especialmente o mistério (hoje mais bem conhecido) do desaparecimento da civilização maia, cujas esplendorosas cidades se ocultam sob a densa floresta.

Ler este livro é mergulhar noutros tempos da arqueologia enquanto ciência, onde uma boa dose de aventura completava a busca pelo saber. Um regresso literário a um tempo cada vez mais longíquo, que foi fundamental na génese do nosso conhecimento profundo do passado.