Atossa Abrahamian (2024). The Hidden Globe: How Wealth Hacks the World. Riverside Books.
Uma visita aos não-lugares, espaços de transiência onde a legalidade dos estados-nação é suspensa, com acordo dos mesmos, para permitir ações e atividades que violam as leis que regem os estados. Atossa Abrahamian leva-nos numa viagem pelos palcos obscuros da globalização, os espaços que sustentam o progresso do neoliberalismo, o crescente fosso de desigualdades, a acumulação exponencial de riqueza das oligarquias transnacionais, as injustiças que contornam as boas intenções expressas na gestão de imigração.
A viagem inicia-se em Genebra, e termina nas ilhas Spitzbergen. Passamos por várias zonas geográficas. Portos livres, zonas francas, cidades-tampão, territórios sobre-exlorados, campos de detenção de imigrantes, bandeiras de conveniência. Zonas que têm em comum o permitir ao capitalismo soltar-se dos grilhões das leis financeiras, laborais, sociais e ambientais para explorar e lucrar. Os espaços visitados e descritos por Abrahamian são variados. Incluem armazéns suíços de obras de arte, onde os milionários guardam os seus investimentos da pintura aos vinhos em zonas discretas, livres de impostos. As zonas francas onde prospera a manufatura a baixo custo para as marcas globais. Paraísos fiscais que permitem os mais mirabolantes esquemas de fuga legal aos impostos - legal, porque assentam em construções legislativas fundamentalmente corruptas mas aprovadas por estados. Zonas de escape de dinheiro, especialmente chinês, que se tornam de facto colónias incrustadas noutros estados. A complexidade das relações marítimas, essa teia de bandeiras de conveniencia e armadores que consegue ofuscar o comércio marítimo dentro de uma rede complexa que dificulta a ligação de um dado navio a um país, fugindo a todas as leis laborais e ambientais. Os espaços de asilo extra-nacionais, onde estados pagam a outros estados para depositar imigrantes fora do seu território.
O livro termina com uma visita a uma zona incongruente, onde a falta de domínio nacional tradicional não se traduz num espírito de liberdade ilegal. As ilhas Spitzbergen são nonimalmente parte da Noruega, mas o tratado que as rege abre um conceito diferente de soberania, onde as fronteiras entre estados não existem e qualquer um pode viver, dentro de um enquadramento próprio. Apesar desta conclusão diferente, a mensagem do livro é clara. Ao longo do século XX, o capitalismo investiu na construção de espaços de exceção que lhe permitem fugir, de forma legal, às leis e costumes dos estados. Os efeitos deste acumular de exceções são maus para todos, exceto para a minoria oligárquica e os seus sicofantes, que diretamente deles benificiam.