Dennis Yi Tenen (2024). Literary Theory for Robots: How Computers Learned to Write. Nova Iorque: W.W. Norton & Company.
Um livro que nos recorda a importãncia das ciências sociais para melhor se compreender a tecnologia. Mergulha a fundo na história da tecnologia e da literatura para nos levar a perceber as reais capacidades dos LLMs. E quando digo a fundo, vai a primórdios inesperados, como as regras combinatórias místicas de Llul e outros sábios medievais, os primeiros a estruturar sistemas de associação matemática de ideias para encontrar novos significados. Daqui segue para a interpretação da linguagem, e das ideias, com operações estatísticas que permitem automatizar processos de pensamento. Entra no campo dos primórdios da computação com o trabalho de Babbage e Lovelace, e faz um desvio intrigante para a padronização de ações, mostrando como a literatura floresceu com essas técnicas.
Por padronização, entenda-se a organização de métodos de trabalho literário, entre meios de cruzar temas à criação de organigramas, procedimentos que permitem acelerar e, de certa forma, automatizar a criação escrita. Métodos que os escritores comericiais conhecem, e exploram bem.
Tudo isso conflui na nossa noção contemporânea de IA Generativa baseada em texto. Treinada no corpus textual, estruturada pela vectorização estatística de palavras, capaz de gerar textos complexos e convicentes, mas também incapaz de compreender o que gera. Os LLMs não são papagaios estocásticos, isso é uma simplificação extrema, mas a forma matemática como lidam com a linguagem não chega à consciência do seu sentido, o que explica as falhas que se convencionou apelidar de alucinações.
O livro não é alarmista em relação à IA Generativa, mas foge dos deslumbres que caracterizam muito do discurso sobre este tema. Mostra-nos que é uma tecnologia com imenso potencial, se entendida como ferramenta e não fim em si. E que talvez o seu maior risco seja a sua excessiva antropomorfização, que distorce a forma como a entendemos, bem como desresponsabiliza alguns dos maus usos.