Gabrielle Wittkop (2011). The Necrophiliac. ECW Press.
Há livros que se esforçam imenso por chocar o leitor, invocando as imagens mais tenebrosas, violentas e viscerais. Geralmente sem grande sucesso, apesar da fanfarra grand guignol. Este, provocou-me nauseas físicas logo nos primeiros parágrafos, de uma forma direta e elegante. Bastou uma frase, que nem sequer tocava em exageros, para revoltear o estômago. Uma elegância tétrica que se manteve até à última página.
Pelo título, percebem logo este livro, mas a leitura é inesperada. Não é um catálogo de devassas e horrores de sensualidade desviante, antes um vislumbre romântico sobre a mente de um homem que ama em demasia a morte, cuja forte atração romântica se prende com as carnes em decomposição. Acaba por ser tocante, e algo patético. Uma das ironias deste livro é saber que estamos a ler sobre algo revoltante, mas o caminho escolhido pela autora faz-nos desenvolver empatia pelo personagem principal, que apesar das suas obsessões monstruosas não é retratado como um monstro lúbrico.
Uma leitura incómoda e elegante, decadente q.b. mas que se recusa cair na banalidade. Recomenda-se um anti-hemético à mão, para estômagos mais sensíveis.