terça-feira, 11 de junho de 2024

Geração D: da Ditadura à Democracia


Carlos Matos Gomes (2024). Geração D: da Ditadura à Democracia. Porto: Porto Editora.

A curiosidade com este livro ficou desperta ao ouvir uma conversa com o seu autor, na Antena 2. Fiquei particularmente intrigado com o que ele designa de geração D, os baby boomers portugueses, aqueles que viveram a pobreza e a tacanhez do estado novo, que combateram na guerra colonial, construiram a democracia, e nos legaram o país de hoje. A geração do uso generalizado do calçado, aponta o autor, num curtíssimo apontamento que mostra bem o quão empbrecido foi o Portugal do século XX.

Militar dos comandos, combatente em África, por onde passou pelos três teatros de operações, também capitão de Abril, Carlos Matos Gomes dá-nos  neste livro um misto de recortes autobiográficos, notas sobre a história recente portuguesa, com uma visão de quem viveu a guerra colonial, a revolução dos cravos, mas também a forma como a sociedade portuguesa evoluiu. Durante a leitura, recheada de detalhes históricos ou arrepiantes, mas também reflexão sobre a sua vida pessoal, entrecortada por um profundo substrato cultural, literário e histórico, não consegui deixar de pensar na figura de um guerreiro-poeta. Sobressai a imagem que alguém que seguiu o seu caminho, apesar de se ver envolvido nalguns dos momentos chave da história recente.

Há um certo desencanto no livro, espelhando uma certa visão de derrota da revolução dos cravos. Por um lado, traça uma história da sua inevitabilidade, perante um país empobrecido e um regime que insistia numa absurda guerra colonial. Por outro, reflete nas oportunidades perdidas, em como alguns problemas fundamentais e estruturais da sociedade portuguesa, o seu extremo conservadorismo atiçado pela igreja, o constante controle  da riqueza por elites rapaces, a facilidade com que o povo se deixa manipular, se mantém constantes.