(2023). Enciclopédia do Terror Português. Oeiras: Verbi Gratia.
Este lançamento tinha-me escapado no Fórum Fantástico, claro que não podia perder a oportunidade no Festival Contacto. Confesso, mesmo sabendo que posso adquirir estes livros online, prefiro aproveitar os eventos em que os editores se encontram. É, também, uma boa oportunidade para conversar um pouco com o editor, sublinhando o trabalho duradouro e notável que a Divergência tem feito para dar espaço editorial aos autores portugueses no domínio do fantástico.
Sabemos que falar de uma enciclopédia do terror em português não será, à partida, um livro muito volumoso, pelas razões que todos bem conhecemos. Estes géneros por cá tardaram a ganhar raízes, há poucas obras representativas, apenas no final do século XX o panorama começou a mudar. Os ensaios coligidos analisam a possível história do género na literatura e cinema, sob pontos de vista que incluem especialistas em jogos, escritores, críticos e historiadores.
Destaco os excelentes ensaios de David Soares sobre o fantástico na literatura de cordel (que me vai obrigar a ir a Óbidos ver se o exemplar da Horta de Literatura de Cordel ainda se encontra esquecido nas estantes da livraria da Igreja), João Monteiro sobre os poucos filmes de terror e fantástico no cinema português, Marta Nazaré com as suas pistas sobre terror e literatura infantil, e Patrícia Sá a analisar Mário de Sá Carneiro e Florbela Espanca.
Alguns dos ensaios sofrem um pouco do mal de nos quererm explicar o que já sabemos antes de se centrarem no tema, e alguns são muito específicos, olhando mais para percursos pessoais do que para uma história e análise literária e fílmica. No entanto, este livro fica também como documento historiográfico, o que justifica a inclusão destes textos.
Podemos não ter uma longa e rica história destes géneros na nossa vida cultural, mas não desapreciemos o pouco que temos, os artefactos fílmicos e literários que se atreveream a desbravar um terreno que, nos dias de hoje, tem uma grande vitalidade e dinamismo. Se tal é possível, hoje, isso deve-se aos que no passado se atreveram a desafiar as monoculturas do gosto cultural, como esta enciclopédia nos mostra.