João Lameiras, João Santos, José Carlos Fernandes (2024). A Revolução Interior: À Procura do 25 de Abril. Lisboa: A Seita/Público.
Normalmente fujo às BDs mais pedagógicas. É trauma de infância, sou daqueles tempos em as "histórias aos quadradinhos" era completamente desconsideradas e menosprezadas, exceto os livros do Astérix "porque sempre se aprendia sobre os romanos", como muitos professoras me foram dizendo ao longo da escolaridade obrigatória. Apesar da BD pedagógica ter o seu lugar, tenho aquele trauma do compromisso, do tornar aceitável todo um género não pela suas qualidades intrísecas, mas por uma vertente de utilidade educativa. Mas quando deparo com um trabalho onde colaboraram João Lameiras e José Carlos Fernandes, é impossível de resistir.
Como disse, trauma, e estes meus achaques têm tudo a ver com a temática deste livro, a ideia da conquista de uma liberdade ao mesmo tempo individual e social. Partindo de uma clássica estrutura de perguntas e respostas, onde um jovem questiona o seu pai sobre vivências de um momento histórico, somos levados pela mão ao longo de uma necessariamente curta história do 25 de abril, que se centra mais no significado individual da liberdade do que nos movimentos factuais.
Criado para comemorar os 25 anos de Abril, é justa e atempada a sua reedição nos 50 anos da revolução dos cravos. O texto de João Lameiras e João Santos é didático e evocativo, e o traço de José Carlos Fernandes dá-nos aquela sua sensação de uma geografia portuguesa sem lugar específico.
E, confesso, agora fiquei curioso com a possibilidade de um épico de 200 pranchas de saga familiar sobre esta época. Se esta grande novela gráfica do 25 de abril alguma vez avançar, asseguro-vos, pelo menos, um leitor.