Junji Ito (2024). Tomie Volume 2. Lisboa: Devir.
É um marco, para os leitores portugueses, a edição completa de Tomie traduzida para português pela Devir. A série do inigualável Junji Ito é um dos grandes clássicos do manga de horror, e sem dúvida bem conhecida pelos fãs quer da BD japonesa, quer do j-horror. Faltava esta tradução, garantindo uma maior acessibilidade de uma obra clássica e incontornável.
Recordo Tomie como um dos meus primeiros recontros com o manga de terror, e deixou-me seduzido às primeiras páginas. Como resistir a esta sedutora adolescente, que incorpora a iconografia de discreta Lolita, e que é na verdade um espírito malévolo que se compraz em levar à loucura os homens e mulheres com que se cruza? Se o lado perturbador da óbvia atração sexualizante sobre adolescentes sentida por homens vos escapou, diria que é mesmo o cerne do horror de Tomie. Começa mesmo por aí, e mostra a capacidade perversa de Ito no brincar com iconografias, tabus e emoções.
Tomie é muito mais do que isto, e depressa decai para extremos de loucura, com grafismos intensos e viscerais. A cada nova história, somos surpreendidos com uma diferente obessão, com inesperadas escatologias e um terror implacável. Tomie existe para enlouquecer, jogar com sentimentos, obcecar, transformar pacatas pessoas em assassinos que a desmembram. Imperturbável, sedutora, implacável, Tomie está a agora mais acessível aos leitores portugueses.