terça-feira, 12 de março de 2024

O Nosso Planeta Assombrado


John Keel (1971), O Nosso Planeta Assombrado. Queluz: Dêagá.

Daquelas aquisições aleatórias de bancada de alfarrabista, vindo de uma coleção antiga de livros de FC. Claro, de científico este não tem nada, é um arrazoado de bizarrias, acasos, alucinações, vigarices e más interpretações históricas e arqueológicas, tudo o que cai sob a alçada de "mistérios do passado". Este tipo de livro fazia as delícias dos leitores mais néscios naqueles velhos tempos onde não havia internet para espalhar teorias da conspiração, nem documentários manhosos do Canal História para propalar visões "alternativas" da História, entre a pura vigarice e a alucinação mental. Por vezes, estes livros até se tornam divertidos pela sua bizarria, apesar de raramente bem escritos (conceitos como lógica, elegância de escrita e capacidade de encadeamento de ideias são, obviamente, instrumentos do establishment para censurar o pensamento livre, como bem sabemos). Não é o caso deste, que para além das patetices e bizarrias, assenta numa posição fortemente anti-ciência. E h0je, todos sabemos no que isso está a dar, dos extremismos políticos às pessoas que almejam o prémio darwin pela sua crença nos malefícios da vacinação. Quando o maluquinho delira sozinho, até se tolera, mas quando o delírio se torna social, temos um problema grave em mãos.

Nota: não resisti à gargalha com um dos "factos" do livro. Ora, não sabia que nos anos 50 a Figueira da Foz foi atingida por uma terrível onda de calor súbito, com temperaturas a chegar aos 70º e mortandade a condizer. Algo que, se de facto tivesse acontecido, estaria na nossa  memória histórica. Um pormenor que enquadra bem o tipo de patranhas em que estas teorias da conspiração assentam.