terça-feira, 9 de janeiro de 2024

The Hollow Places


T. Kingfisher (2020). The Hollow Places. Nova Iorque: Saga Press.

Esta autora tem-me surgido com frequência cada vez mais intensa nas sugestões de leitura e recensões de bloggers que leio. Comecei a vê-la como uma nova voz promissora do fantástico, e tive de experimentar.

The Hollow Places é um livro com conceitos muito interessantes, dentro do horror. A ideia de espaços além do nosso, acessíveis por acasos e acidentes. As geografias, arquiteturas e artefactos que se encontram nessas zonas paralelas. E, claro, as ameaças, que no livro raramente são bem definidas, entrando na tradição do horror cósmico em que criaturas que nos são impossíveis de compreender nos manipulam e aterrorizam. Junte-se a isto um cenário pitoresco, o de um museu de curiosidades americano à beira estrada, dois personagens com sentimento de incompletitude, e temos os ingredientes para uma boa história.

Uma mulher recém-divorciada regressa a casa do tio, doente, para se refugiar do trauma e refazer a vida. Distrai-se das memórias ajudando no negócio, um museu de curiosidades e bizarrias numa cidadezinha. Cruza-se com o dono do café em frente, um homem gay que vive algo isolado numa terra pequena. Dentro do museu, esta dupla inesperada depara-se com um bizarro mistério, um portal que os leva para uma terra estranha, impossível de compreender pela lógica, cheia de segredos e criaturas incompreensíveis, e terão de sobreviver aos traumas, bem como fechar o portal.

Apesar das premissas estimulantes, o livro não passa muito do registo da história de entretenimento leve. Nada contra isso, claro, mas dado que a autora tem recebido muitos elogios, esperava algo mais profundo. Os conceitos são interessantes, a invocação de mundos fantásticos e os seus horrores cativante, mas os personagens são demasiado lineares e a expressão dos seus sentimentos não causa empatia, aliás, causa bocejos, com tanto estereótipo relacional (pensem numa sitcom com uma mulher divorciada a partilhar espaços com um homem gay, e têm todos os lugares comuns óbvios do livro). É uma leitura divertida, com uma curiosa homenagem ao horror cósmico clássico, mas fundamentalmente inconsequente.