Peter Tsouras (2014). Disaster at D-Day: The Germans Defeat the Allies, June 1944. Nova Iorque: Skyhorse Publishing.
O habitual nos livros de história alternativa é focarem-se nas peripécias de alguns indivíduos, tendo como pano de fundo mundos especulativos que imaginam o que teria acontecido se a História tivesse seguindo um diferente percurso. Mas Peter Tsouras é historiador, não romancista. Não perde tempo a imaginar personagens e as suas personalidades moldadas pela vida, aventuras e desventuras. Mergulha na sua história alternativa como se fosse uma análise real de factos históricos. Não há persongens neste livro, apesar do foco em Rommel e Montgomery, mas sim descrições frias de movimentações militares e batalhas. Exatamente o que se espera de livros sobre a história da guerra, mas aqui, a implacável partida de xadrez sangrenta é especulativa, com um enorme e se... que se foca num dos acontecimentos mais icónicos do século XX, o desembarque aliado na Normandia.
Tsouras vai direto ao assunto, num livro que nos mostra como o Dia D poderia ter corrido mesmo muito mal, e ficado para a história como um desastre. Com rigor histórico, Tsouras parte de algumas premissas que incialmente se desviam um pouco dos factos reais. E se, pergunta-se, Rommel não estivesse afastado do seu quartel-general, sendo assim capaz de reagir com a sua enorme capacidade tática logo nos primeiros momentos do desembarque aliado? E se os alemães dispusessem de tropas melhor treinadas nos sectores da Normandia, especialmente unidades experientes vindas da violência da frente leste? E se, nas primeiras horas do desembarque, Hitler e o alto comando militar alemão se tivessem apercebido de que este era realmente a esperada invasão Aliada, e não uma manobra de diversão para distrair do esperado alvo de Calais, e, com isso, accionasse de imediato várias divisões que chegariam à Normandia a tempo de reforçar os defensores? E se o clima tivesse sido mais agreste, impedido os aliados de libertar a sua superioridade aérea sobre as linhas alemãs, ou os cruciais portos flutantes se tivessem afundado no mau tempo? E se algumas das decisões do alto comando aliado tivessem sido erradas, desperdiçando tropas? E se, ainda se pergunta Tsouras, os nazis dispussem de mais mísseis V1, e em vez de os gastar em ataques a cidades inglesas, também os usassem para atacar alvos estratégicos?
Tsouras parte destas premissas para iniciar um relato que começa na história que todos conhecemos, mas depressa começa a divergir. Na sua especulação, mostra como se o desembarque americana na praia Omaha tivesse sido um desastre, isso impediria o reforço de homens e material que, combinado com contra-ataques das melhores unidades da Wermacht e Waffen-SS, transformaria a Normandia num longo pesadelo, em que os poucos sucessos dos Aliados depressa se tornam em pesadas derrotas.
Curiosamente, Tsouras não termina o livro com uma previsível derrota total aliada. É aqui que a sua especulação atinge o rubro, com os conspiradores que tentaram o atentado falhado contra Hitler a ser bem sucedidos, aproveitando uma visita do ditador para conhecer a sua nova vitória contra os Aliados, enquanto Rommel, farto da carnificina e desperdício da guerra e da ditadura, se aproxima de Eisenhower e Montgomery para negociar um armistício.
Aviso-vos que este livro não é uma leitura divertida, a menos que pertençam ao grupo daqueles que apreciem relatos históricos. Não é um romance, é uma intrigante inversão com um livro de análise histórica que nos conta uma história diferente, especulativa. E que nos recorda que, se do nosso ponto de vista no presente, a História parece mover-se numa sequência lógica, essa sequência é apenas a leitura do que se passou, esquecendo que se em qualquer momento, quer nos chave, quer nos restantes, tivesse havido diferentes condições, a História seria outra. Que o nosso passado é uma sucessão de acasos fixados pelo tempo, que nos conduziram aos dias de hoje