Junji Ito (2022). Coleção de contos: Best of Best. Palmela: Devir.
É um pouco discutível, o título desta antologia. Não que os contos não sejam bons, mas porque o trabalho de Junji Ito é consistentemente bom. Considerar estes os melhores dos melhores é deixar tantos outros para trás. Sendo prolífico na sua obra, este mangaka tem um enorme corpus de trabalho, espelhado em séries, livros e antologias. E muito raramente desilude.
Para neófitos no grafismo e estilo narrativo deste autor, este livro é um excelente ponto de partida, dá-nos um panorama do tipo de temáticas que aborda. Mostra adaptações literárias, no caso de contos fantásticos japoneses de autores clássicos, recontros com monstros quasi-absurdos, e viagens de um surreal apocalíptico onde os personagens são compelidos à sua destruição. É o cerne da obra de Ito, de um criador que sempre surpreende com a enorme bizarria do seu imaginário, que nos seduz com um traço elegante e assumidamente convencional para depois tirar o tapete com as piores atrocidades ou as monstruosidades mais absurdas.
Diria que o que torna Ito tão popular é esta dualidade, a sua suave linha clara e mestria de realismo gráfico são colocados ao serviço da representação dos mais bizarros pesadelos gráficos. Editada em português pela Devir, esta antologia marca a primeira vez que a obra de Junji Ito chega na nossa língua ao público. Os leotires portugueses só têm a ganhar com a descoberta do trabalho deste mestre do terror gráfico japonês.