Samir Karimo , Miguel Ángel Sánchez, Felipe Arambarri (2021). Yo, Zombiro. Edição Independente.
Samir Karimo , Miguel Ángel Sánchez, Felipe Arambarri (2021). Chocozombi Apocaliptico. Edição Independente.
Os frequentadores do meio sub, ou contra, cultural português ligado aos géneros do fantástico, horror e banda desenhada já se depararam com a figura algo peripatética de Samir Karimo. Homem baixo e rechonchudo, com uma voz que faz lembrar a de Mickey nos antigos desenhos animados. Simpático, sorridente e insistente, sempre a promover e a mostrar a sua obra. E é aqui que reside o maior contraste, entre a pessoa que é, e as bizarrias absurdas e extremas que saem da sua mente. Notem, não quero com este retrato depreciar a pessoa, de forma alguma. Até porque, mesmo não sendo apreciador das suas prosas, admiro-lhe o espírito de completa independência e liberdade criativa, de não se importar com limites, e, essencialmente, de ter o atrevimento de fazer a sua cena, e lutar por isso. Samir luta, e muito, é quase omnipresente em festivais e eventos.
Saí do Fórum Fantástico com dois dos seus livros. O homem apanhou-me a jeito, e não consegui dizer-lhe que não. Nem queria. Posso não apreciar as suas prosas, mas bolas, há que apoiar a independência.
Que dizer de bizarrias como Yo, Zombiro e Chocozombi Apocalíptico? Desafiam todas as descrições. Da mente de um homem tranquilo saem monstruosidades surreais e escatológicas. Um pouco como aquele dito que se tornou uma série de quadros de Goya, mas aqui os monstros são profundamente abstrusos. É uma mitologia muito pessoal, feita de imagens chocantes, num inacreditável contraste entre a tranquilidade da pessoa e as ideias que lhe saem da mente.
O problema destes livros é enveredarem pela banda desenhada, e aí Samir Karimo tem azar com os companheiros de bizarria. Os ilustradores que o acompanham não são muito bons, ou sequer bons, e tudo aquilo se perde num tipo de arte pré-adolescente rebelde mas sem talento. Pretende chocar, mas falta-lhe a qualidade visual mínima.
Apesar disto, vou apoiando e lendo o trabalho do Samir. Prefiro só em prosa. Não o apreciando, compreendo-lhe o alcance, e essencialmente admiro a postura de liberdade. Pode ser bizarro e estranho, mas merece que o acolham, não temos todos de subscrever os mesmos cânones do fantástico, e não ser enxotado (como vi alguém ligado a um projeto digital ligado ao terror português fazer em pleno Fórum).