quinta-feira, 12 de outubro de 2023

The Great War in the Azores


Maria Rollo, et al (2022).  The Great War in the Azores : from outermost to the heart of the North Atlantic (1914-1921) . Ponta Delgada: Letras Lavadas

Este é um daqueles livros com que nos deparamos quando estamos a visitar outras terras, e queremos saber um pouco mais sobre a sua história. Colige uma série de estudos académicos sobre a história dos Açores na I Guerra Mundial, quando o papel geostratégico destas ilhas no meio do Atlântico se começa a vincar. As histórias que compõem esta história são surpreendentes. 

Ficamos a saber que, em 1914, os Açores eram um território português praticaente abandonado militarmente, a jovem república não tinha meios para defesa naval. A diplomacia britânica preferiu Portugal como um aliado não-beligerante, controlando assim os pontos-chave das comunicações via cabo e as rotas de abastecimento navais. Apesar dos ataques de submarinos alemães no atlântico, que caçavam os seus alvos nos mares açoreanos, os ataques a portos foram raros, apesar de acontecerem, porque os portos não abrigavam navegação que justificasse ataques. Os Açores albergaram um campo de concentração para alemães apanhados em Portugal aquando da entrada na Guerra, onde tudo poderia ter corrido mal, se não pelos esforços do comando militar local, que sem meios e com enormes dificuldades manteve o campo. Forças americanas instalaram-se nos Açores, inicialmente sem autorização do governo português, onde montaram uma base naval e trouxeram os primeiros meios aéreos nas ilhas, uma ação que levou Lisboa a temer uma anexação americana das ilhas, e a tentar reforçar, com parcos meios, a presença de forças navais e aéreas, como sinal de soberania.

Sendo um pequeno parágrafo da mais vasta história global da I Guerra, estas histórias das ilhas atlânticas mostram o seu passado. Ao lê-las, transparece um sentimento de distância face ao país, de uma república com ambições superiores aos seus meios reais. 

O livro é editado por uma editora açoreana, e curiosamente diretamente em inglês, numa aposta interessante destinada ao público internacional. Os textos são da autoria de investigadores portugueses, e a sua tradução merecia ter tido uma atenção mais cuidada, há alguns erros muito visiveis (apreciei particularmente a frase em que o investigador usa a expressão inglesa para rezar ao falar das presas dos submarinos alemães).