Hiroshi Hirata (2023). O Preço da Desonra. Lisboa: A Seita.
De excelência, esta que é a mais recente proposta de manga da A Seita. O traço e palavras de Hiroshi Hirata leva-nos ao âmago do Japão feudal, à época onde clãs de samurais lutavam entre si por fugazes supremacias, em constantes e sangrentos jogos de poder. Mas o livro não é sobre esse tipo de história. É mais focado e visceral. Acopanhamos um sisudo e implacável cobrador de dívidas, que tem a seu cargo uma tarefa singular: cobrar dívidas de sangue contraídas no campo de batalha, quando combatentes prestes a enfrentar a morte trocavam a vida pela promessa de dinheiro. Promessas essas que, ao não serem cumpridas, obrigavam à entrada em ação destes cobradores, homens ao mesmo tempo honestos, minuciosos, procurando sempre ser justos, mas também temíveis lutadores, capazes de enfrentar os lacaios daqueles cujas dívidas procuravam cobrar.
Este não é um livro simpático, mitificando passados gloriosos, heroicizando a figura do samurai. Muito pelo contrário, sublinha a violência e venalidade de homens que nada mais conheciam do que as constantes guerras, o desprezo pela vida humana, o baixo papel da mulher. O dualismo moral daqueles que se afirmam honrados combatentes sempre dispostos a perder a vida, mas que no momento crucial, perdem a coragem.
O traço acompanha o caráter pesado das histórias. As vinhetas explodem em dinamismo, quer contido, quer explícito, quando retrata violentas cenas de luta que não são complacentes e são de extrema violência. O Japão feudal era um lugar violento, e Hirata não esconde isso, nem branqueia esse passado por detrás de vernizes de coragem militarista. Uma obra dura, violenta, e imperdível.